Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, IV COLÓQUIO LUSO-BRASILEIRO DIREITO E INFORMAÇÃO

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DESAFIOS NA PRODUÇÃO E NA SOCIALIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES E DE CONHECIMENTOS NO CAMPO CIENTÍFICO: novas realidades e novo perfil para o pesquisador
Rubens da Silva Ferreira, Cleide Furtado Nascimento Dantas, Karla Cristina Damasceno de Oliveira

Última alteração: 2016-01-21

Resumo


Este trabalho busca analisar algumas questões que, do nosso ponto de vista e experiência acadêmica, se impõem ao campo científico, e, de algum modo, afetam e são afetadas tanto no âmbito da produção de informações e de conhecimentos quanto da socialização destes. Quando falamos em produção de informações e de conhecimentos referimo-nos à atividade de pesquisa científica propriamente dita, com seus valores, ritos e práticas. Quando falamos em socialização, reportamo-nos aos processos e aos meios pelos quais os produtos gerados por àquela atividade tornam-se de conhecimento amplo entre os pares e entre a sociedade maior, notadamente na forma de livros, artigos e de trabalhos apresentados em eventos acadêmicos que, a posteriori, são trabalhados e geridos nas bibliotecas das instituições de pesquisa e das universidades para fins de acesso, quer de modo presencial e/ou remoto. Como produto de uma análise autoral que toma por locus a realidade brasileira, este exercício de pensamento está assentado nas teorizações de Pierre Bourdieu, precisamente sobre o conceito de campo científico, esse microcosmo social dotado de ethos próprio, marcado por relações sociais bastante dinâmicas entre as pessoas e as instituições que o constitui. Assim, ao vislumbrarmos os desafios científicos contemporâneos na esfera da ética, das normas jurídicas e institucionais, bem como da difusão das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) que atravessam cada vez mais as práticas científicas, analisamos as articulações do campo científico com os campos político, jurídico e social, procurando, deste modo, entender como eles são afetados e como afetam a produção e a comunicação científica em uma sociedade que reconhecemos, tal como Castells (1999), configurar-se em uma rede dotada de grande potencial infocomunicativo, porém, carregada de assimetrias. Como os campos possuem autonomia relativa, há que se compreender que o científico não somente afeta como também é afetado pelos demais nas práticas que são peculiares a cada um deles. É assim que, no Brasil, na esfera da produção de informações e de conhecimentos os pesquisadores se veem desafiados pela Resolução n. 466/2012-CNS, contendo diretrizes para pesquisas envolvendo seres humanos, na medida em que as pessoas tidas como sujeitos dessas pesquisas se tornam cada vez mais politizadas e mais bem informadas; pelo Decreto Legislativo n. 2/1994, sobre o uso de conhecimentos associados aos recursos biogenéticos; e pelas respostas dos institutos de pesquisa e das universidades a essas normas com a criação de comitês de ética para validação dos projetos a serem executados, ou não. E, por outro lado, na esfera da socialização dos produtos da pesquisa, revistas científicas começam cada vez mais a adotar critérios para publicação associados às decisões favoráveis desses comitês e à comprovação do consentimento dos indivíduos e/ou dos grupos humanos pesquisados. Acrescentemos a esses desafios este momento lento e progressivo de adaptação de muitos investigadores ao uso das plataformas digitais, recursos tecnológicos que ampliam a velocidade na circulação de informações e de conhecimentos, dando maior visibilidade à produção científica, mas que ainda precisa ser mais bem apropriado e incorporado às práticas dessas pessoas. Longe de se esgotarem, os desafios que contemplamos neste trabalho apontam para mudanças não apenas nas condições contemporâneas para a produção de informações e de conhecimentos científicos. Elas também sinalizam mudanças no perfil do pesquisador para lidar com as novas realidades humanas, legais, institucionais e tecnológicas. Deste modo, mas do que o pesquisador tradicional de gabinete ou de campo, que parece conduzir sua pesquisa de maneira descompromissada com o mundo exterior, esse perfil vem sendo progressivamente substituído pelo modelo de um pesquisador dinâmico, político, articulador e empreendedor, conectado com a sociedade em que vive.