Última alteração: 2013-10-10
Resumo
Para os cientistas dar a conhecer os resultados das suas investigações é fundamental, pois para que um novo saber se instale é necessário que o mesmo seja partilhado por um conjunto de indivíduos que o valide e o incorpore em novas investigações, num processo contínuo e permanente. Ao longo de séculos esta comunicação da ciência fez-se sobretudo por meio de objetos impressos (livros e revistas), mas com o desenvolvimento ocorrido nas últimas décadas e a afirmação de uma nova infraestrutura tecnológica, marcada pelo uso da tecnologia, tem-se assistido a alterações significativas nos processos de construção do conhecimento científico, as quais incluem os artefactos da comunicação científica.
Os interesses comerciais que dominaram o sistema de comunicação científica ao longo do século XX, estiveram na origem de importantes dificuldades no acesso a conteúdos especializados, tanto no que diz respeito aos periódicos científicos, como às monografias (Thompson, 2002; Unsworth, 2003; Williams, Stevenson, Nicholas, Watkinson, & Rowlands, 2009).
Uma das reações a este cenário teve como consequência o desenvolvimento do movimento de acesso livre ao conhecimento científico. Este movimento, que defende uma ciência aberta e na qual a informação deve poder ser acedida livremente, teve naturais consequências na publicação científica. Contudo, a adoção de novos canais de comunicação da ciência não se faz uniformemente nas diferentes comunidades científica, sendo o processo influenciado pela cultura epistémica de cada uma delas (Cronin, 2003; Nentwich, 2003; Borgman, 2010). Assim, e se no campo das ciências ditas “duras”, como a Física ou Química, a comunicação pela via digital é considerada natural, o domínio das Artes e Humanidades, no qual se inclui, entre outras ciências, a História, tem sido visto como menos apetente para tirar partido das vantagens oferecidas pela infraestrutura tecnológica de suporte à investigação e onde as práticas de comunicar a ciência tendem a manter-se fiéis a esquemas mais tradicionais (Dalton, 2008), o que no entender de Borgman (2009) e Staley (2009) implica uma mudança de atitude de modo a não descurar as oportunidades proporcionadas pelo novo ambiente.
Tendo em conta o quadro anteriormente descrito, o trabalho que agora se apresenta insere-se numa investigação em curso que pretende conhecer o modo como os meios digitais estão a ser utilizados na construção e difusão do conhecimento científico no seio de uma comunidade específica, em Portugal, que é a dos Historiadores.
Dado que no nosso país a investigação científica se desenvolve essencialmente em Unidades de Investigação & Desenvolvimento (Unidades de I&D) financiadas e avaliadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), este foi o cenário de pesquisa escolhido para o estudo acima mencionado. No total consideraram-se dezasseis das dezoito Unidades de I&D de História atualmente financiadas pela FCT (Mattoso et al., 2011). As duas Unidades excluídas foram-no por serem especializadas em Arqueologia, área que embora se enquadre na História, possuí um modus operandi de tal forma específico, que é visto como um território epistémico próprio, constituindo-se como uma ciência autónoma.
Saber o que pensam os historiadores, que desenvolvem a sua atividade em Portugal, sobre a publicação eletrónica e o acesso livre ao conhecimento científico, bem como quais as estratégias que nesse sentido estão a ser adotadas pelas Unidades de I&D, são alguns dos objetivos da investigação em curso. Assim, tendo por base os resultados de entrevistas feitas aos Coordenadores Científicos das Unidades de I&D, complementados com uma análise documental feita a partir da pesquisa nos sites das Unidade de I&D e outras fontes disponíveis na WWW, apresentar-se-á a opinião que têm relativamente à publicação em formato eletrónico e ao acesso aberto, à oportunidade que representam para a difusão do conhecimento historiográfico português e eventuais estratégias e projetos que estejam a desenvolver nesse domínio. Embora as visões sejam diversificadas, os dados recolhidos parecem apontar para uma crescente valorização do meio digital na difusão da ciência histórica em Portugal.