Última alteração: 2017-10-18
Resumo
Sendo Portugal um país com uma taxa de natalidade baixa, o discurso político une-se em torno da necessidade de inverter uma tendência que tem sido sempre para descer. Ora, o jornalismo não acompanha essa preocupação. A gravidez não se constitui como grande motivo de noticiabilidade e, quando isso acontece, é, sobretudo, para falar no modo de a evitar por métodos contracetivos.
Percorrendo seis jornais portugueses – Público, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Correio da Manhã, Expresso e Sol – entre 2012 e 2014, encontramos 439 artigos que falam de prevenção. No entanto, apenas 2,3 por cento se detêm na gravidez. Trata-se de uma percentagem reduzida de artigos que convém analisar com pormenor. Procuramos aqui saber qual o tratamento jornalístico escolhido, quais as fontes de informação selecionadas e qual a forma de abordagem adotada.
Contrariamente ao que seria de esperar, as notícias sobre gravidez apostavam na contraceção. Tendo Portugal, em 2014, uma taxa de natalidade de 7,9%, segundo dados do INE e da PORDATA de 2015, esperar-se-ia que a imprensa abordasse aspetos como o incentivo à natalidade ou dados sobre a questão do aborto, uma vez que a interrupção voluntária da gravidez foi legalizada em 2007. Contudo, estas expectativas não foram corroboradas. Pelo contrário. Deu-se atenção a notícias sobre contraceção – atuando-se aqui num campo da prevenção do aborto.
O tratamento jornalístico dado à temática da gravidez passou pela publicação de notícias (80%), em detrimento das reportagens e entrevistas (ambas com apenas 10%). Estes textos tiveram uma abordagem essencialmente positiva, na medida em que se evidenciaram títulos positivos (40%) e os títulos negativos registaram valores reduzidos (20%). O Diário de Notícias foi o jornal que mais se dedicou à publicação de artigos sobre este assunto (40%) e o Expresso não publicou qualquer texto. Sem se identificarem com alguma doença em específico (90%), os artigos também não fizeram referência temporal ao que foi noticiado (70%). Com um âmbito maioritariamente nacional (60%), os textos sobre gravidez apresentaram uma dimensão média (70%) e uma clara necessidade em apresentar fontes de informação, na medida em que a totalidade dos textos identificam fontes. Contudo, o número de fontes por artigo foi bastante reduzido, verificando-se uma tendência para referir apenas uma fonte (40%). Esta constatação coloca de parte a possibilidade de haver um contraditório no que é noticiado sobre o tema da gravidez.
Relativamente às fontes de informação, confirmámos a preocupação em as apresentar, uma vez que a totalidade das fontes são identificadas, não existindo, portanto, fontes anónimas. Com um carater essencialmente nacional (45%), as fontes que falam sobre gravidez são acima de tudo masculinas (45%), verificando-se também uma supremacia de fontes que falam com propriedade no campo da saúde, com destaque para as fontes especializadas institucionais. Esta supremacia abafa a possibilidade do cidadão comum ser chamado a falar nas notícias de prevenção. No processo de construção da notícia, o jornalista opta por ouvir as fontes que representam uma instituição ou uma profissão credível no campo da saúde, como é o caso dos médicos. Naturalmente, tratando-se desta temática, a especialidade médica ouvida para estes artigos foi ginecologia/obstetrícia.
O estudo desenvolvido enquadra-se no projeto de doutoramento “Comunicação e Saúde: Jornalismo preventivo e fontes de informação” (SFRH/BD/89792/2012), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, a decorrer no Centros de Estudos de Comunicação e Sociedade, na Universidade do Minho.
Palavras-chave: Jornalismo de Saúde; Prevenção; Gravidez; Fontes de Informação