Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR IV - A Medicina na Era da Informação

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PROVOCAÇÕES OU DEVANEIOS NARRATIVOS? O OLHAR CRÍTICO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Zeny Duarte, Carmen Matos Abreu

Última alteração: 2017-09-27

Resumo


Viajando fora do consultório, por geografias intercontinentais, no conto “Fura-greves” o médico-escritor português Miguel Miranda escolheu como palco narrativo o Rio de Janeiro. Entre sindicalismos mal acolhidos, desenvolvimentos e retrações físicas que a genética não perdoou, ambições profissionais sem legitimidade de competência, ou roubo falseado por uma ilusão ridícula, Geraldão, o filho Luisão, ainda Rodrigão e Carlão, estes netos do primeiro, são personagens que preenchem um sem número de desafios entre o limbo da ambição e o comprazimento nas suas condições sociais. Miguel Miranda lança sobre esta família narrativa, brasileira, um perspicaz e penetrante olhar, fazendo-a calcorrear Copacabana, o Pão de Açúcar, Corcovado, viajar de teleférico, bondinho, ónibus, elétrico de Santa Teresa ou táxi, na busca de esclarecimentos acerca de ideais mal concebidos, segundo a perspetiva de alguns membros da família. Neste périplo de admitida verosimilhança, o insólito acontece a cada momento sulcado por profunda ironia, numa sucessão de estratégias que contabilizam um repositório de modos, costumes e linguagem, constituidas num verdadeiro arquivo documental da história das populações. De olhar crítico sempre atento e mordaz, a causticidade dos episódios de um quotidiano bem-humorado prolonga-se entre provocações e devaneios que a liberdade criadora da ficção permite, denotando um modus vivendi que se plasma num documento literário imutável, que o tempo arquivará na memória dos paradigmas sociais do virar do século XX e duas primeiras décadas do XXI. Com produções transmúltiplas, chamaremos outro médico-escritor, o brasileiro Antônio Nery Alves Filho, o qual, com curiosidade, se define não tanto como médico, mas como um estudioso sobre a sociedade, um antropólogo para quem a pobreza o atrai, voltado para os estudos da bioética e da ética. Dedicado ao entendimento do uso de drogas e das questões da exclusão, emoção e intempestividade são marcas de sua personalidade, dizendo-se médico sem ser médico e a almejar o novo no ensino da deontologia e da bioética na formação clínica. De declarado interesse pela simbiose e multiplicidade de que o ser humano se compõe, quando escreve “sempre pensei que o mundo faria a distinção entre o que é cognitivo, religioso, psicanalítico e que eu estaria no bloco dos sócio-antropo-psicanalistas (…) que o que interessava era trabalhar com a proposta psicanalítica associada ao social, ao econômico, ao antropológico, ao educacional.” (MACRAE, et al, 2009, p.290-291), as inquietações de Antônio Nery não poderiam ser mais evidentes. A produção literária destes dois médicos-escritores, como metonímia de tantos outros que revelam as mesmas preocupações, e cujos acervos, tantas vezes escondidos nas prateleiras das suas residências ou instituições, serão os responsáveis pelo OBJETIVO de análise deste trabalho, sob o olhar crítico, teórico e conceitual da Ciência da Informação (C.I.), baseado em DUARTE, ABREU, SILVA, RIBEIRO, BELLOTTO, CAMARGO, DUCROT, COOK, LE GOFF. A METODOLOGIA perpassará estudos que aproximam as representações informacionais, nacionais ou internacionais, a lidar com memórias, colocadas nas nuvens, de médicos-escritores e atuantes neste século da informação, sob análise de registros construídos nesta era digital. Atendendo-se à composição dos arquivos pessoais de Miguel Miranda e Antônio Nery Filho através de impressos, facebook, blogs, correio eletrónico, motores de busca, entre demais, perceber-se-á, finalmente, que ambos estes médicos-escritores se propõem escavar a alma humana nos mais recônditos da existência. A C.I. buscará o RESULTADO deste trabalho na análise de arquivos de médicos que produzem para além da ciência, salientando-se o cruzamento das teorias da C.I. com as das Letras, Medicina e Ciências Sociais e Humanas, na preservação e divulgação de memórias. Observar-se-ão, enfim, toques CONCLUSIVOS de uma investigação aberta, contínua e reflexiva acerca de arquivos, cujos conteúdos descortinam o pensamento destas e de outras personalidades do mundo da Medicina.

Palavras-chave: Miguel Paulo Barrosa Pinto de Miranda – Memórias; Antônio Nery Filho - Memórias; Médico-Escritor - Ciência da Informação.