Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR IV - A Medicina na Era da Informação

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TRATAMENTO NOTICIOSO DO VÍRUS ZIKA NA IMPRENSA. ESTUDO COMPARADO DAS ESTRATÉGIAS NOTICIOSAS NO BRASIL E EM PORTUGAL
Hernâni Zão Oliveira, Jennifer Gabe, Ana Patricia Fernandez Turkowski, Tiago Franklin Lucena, Ana Paula Machado, Regiane Macuch, Helena Laura Dias de Lima

Última alteração: 2017-10-18

Resumo


As notícias têm um papel determinante na forma como os temas da atualidade são percecionados pelo público. O ano de 2016 ficou marcado por uma presença mediática nacional representativa dos casos de Zika, fruto da organização dos Jogos Olímpicos e do aumento expressivo do número de casos no Brasil. Este país tem sido palco, desde outubro de 2015, de episódios que associam o vírus ao nascimento de crianças com microcefalia. A informação noticiosa é determinante para uma boa literacia em saúde, na enunciação de Nutbeam (2009), no sentido em que os media podem permitir aos cidadãos aceder a conhecimento validado e útil, resultando este em boas praticas na promoção da saúde pública e no aumento de competências próprias para a população. No caso do vírus Zika, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem ampliado esforços no sentido de ajudar os países a controlarem a doença, através do “Quadro Estratégico de Resposta ao Zika” (OMS, Julho de 2016). Reforçar as capacidades de comunicação dos riscos, para levar as comunidades a compreenderem melhor os problemas associados ao vírus Zika, é uma das principais prioridades aqui mencionada. A prevenção do risco de infeção centra-se, assim, na comunicação de estratégias de protecção contra as picadas dos mosquitos que transmitem o vírus, e na redução do risco de transmissão sexual e potenciais complicações na gravidez relacionadas com a doença (MacFadden e Bogoch, 2016). Estas medidas visam não só as zonas onde ocorra transmissão local do vírus Zika, mas também países cuja população apresente um fluxo migratório frequente para zonas afetadas (Nunes et al, 2016).

Dada a importância que o jornalismo pode desempenhar nos processos de aquisição de informação, o objetivo deste estudo é entender as diferenças na cobertura jornalística entre o Brasil e Portugal no caso Zika, identificando de que forma as notícias traduzem uma adaptação ao tipo de prevenção necessário para cada país. A análise incide sobre as notícias de imprensa em diários portugueses e brasileiros que abordam esta temática, no ano de 2016, o que corresponde ao pico ascendente de casos registado e à mediatização da organização de um evento internacional de grande envergadura. A metodologia passa pelos processos de agenda-building e priming (Scheufele, 2000; Sheafer e Weimann, 2006), no sentido de entender a preponderância em termos de fontes institucionais ou outras, onde se incuem as fontes não governamentais. Procura-se assim entender se a necessidade de uma informação equilibrada é feita em detrimento da objetividade da informação científica e qual a perceção promovida pelo enquadramento noticioso (Dixon; Clarke, 2013). O estudo de caso implica uma análise editorial, isto é, a temática onde a notícia se insere em cada jornal, bem como os processos de hierarquização de notícia, nomeadamente as chamadas à primeira página e/ ou manchetes, com base numa grelha de análise que contempla estas diferentes categorias. Para além do enquadramento mais evidente da evolução do número de casos detetado, procura-se ainda, através da análise das notícias, identificar outros formatos discursivos e perceções dos leitores (Scheufele; Tewksbury, 2007), como medo epidémico, efeitos secundários, comportamento preventico em contexto de viagem e tendência internacional. Os resultados preliminares mostram uma grande disparidade no tratamento nos dois países. Os enquadramentos apontam, de igual forma, para abordagens diferentes dada a intensidade da epidemia no Brasil e para a desigualdade na quantidade e nos formatos jornalísticos.