Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR IV - A Medicina na Era da Informação

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CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIA NO ATENDIMENTO A SAÚDE EM PERIPERI SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR, BAHIA (1950 a 2010)
Ogvalda Devay de Sousa Tôrres, Elaine Pedreira Rabinovich, Silvana Pereira da Silva

Última alteração: 2017-09-26

Resumo


Introdução: O Brasil, enquanto Colônia e Império recebia atenção à saúde oriunda da organização sanitária portuguesa. Antes disso os curandeiros e a sabedoria indígena, população local, utilizavam plantas ou gorduras animais para tratamento das doenças do corpo ou magias para as doenças da cabeça, que eram interpretadas como doenças da alma. Em Periperi, não foi diferente, primitivamente habitada pelos índios tupinambás. No Sec. XX era uma fazenda administrada por um Engenheiro, habitada por pescadores, e, pela localização aprazível, enseada na Baía de Todos os Santos, litorânea e com praia, atraía veranistas e algumas famílias de aposentados que adquiriam terrenos foreiros e se estabeleciam em chácaras bem cuidadas. A população fixa foi iniciada com a implantação da Viação Férrea Federal Brasileira, cujos trens constituíam o único meio de transporte para ligação com a cidade de Salvador. Oficinas para conserto dos vagões, localizadas em Periperi, trouxeram funcionários da Empresa para residirem nesta localidade, bem perto de onde trabalhavam. O presente artigo registra os primeiros profissionais de saúde com residência fixada no subúrbio de Periperi, o primeiro farmacêutico graduado, João Leovigildo de Almeida, e o primeiro médico residente, graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1942, Osvaldo Devay de Sousa. Objetivo: Tem por principal objetivo contribuir para o registro da memória da evolução da saúde nesse subúrbio. Pelo fato de a autora principal deste trabalho ser filha do primeiro médico residente, ela própria é fonte de informação, acrescida do que foi relatado por 65 famílias com filhos entrevistadas, que residiram em Periperi pelo menos durante uma década, distribuídas por décadas e que os filhos nasceram e permaneceram nesse subúrbio. Também foram incluídas informações de entrevistados que contaram a história do subúrbio em estudo, acrescida do depoimento de onze médicos que atuaram profissionalmente na localidade ou lá ainda permanecem exercendo a profissão Considerando a intergeracionalidade, a evidência de que velhas gerações sempre tiveram e continuam tendo funções de transmissão de conhecimento, falar sobre o primeiro médico em Periperi, e descrever sua atuação profissional observada, todo tempo, pela filha que, com 4 anos de idade assistiu a cerimônia de graduação do pai e continuou assistindo todo o seu trabalho profissional, pretende ser uma contribuição ao registro da memória da saúde. Método: Classifica-se o presente trabalho, contudo, como uma pesquisa qualitativa, descritiva, enquadrada como um estudo de caso. Concentra o período em observação a sete décadas (1950 a 2010), complementando o que já está publicado de referência às décadas de 60 a 2010. Resultado: Salienta o quanto um farmacêutico dono de farmácia foi capaz de suprir as necessidades de saúde local até a presença do primeiro médico residente e chama a atenção para quanto um médico sozinho conseguiu atuar não só para esse subúrbio, mas também para os adjacentes, mesmo sem estar munido, ainda, dos avanços tecnológicos, com um mínimo de aparelhagem auxiliar. Conclusão: Registra a qualidade do atendimento do médico da família, na época, o prestígio que lhe era emprestado, e, sobretudo a humanização da medicina no período estudado. Acrescenta a influência do primeiro médico como formador de equipe para prestar serviço nessa mesma comunidade explicando como ela própria veio a exercer a mesma profissão, bem como sua irmã, oito anos mais jovem, e como trouxe o noivo, médico também, para trabalhar na comunidade, e o quanto esse novo casal de médicos permaneceu atendendo aos moradores locais durante 50 anos.

Palavras-chave: Atendimento à saúde -   Subúrbio de Periepri, Salvador-BA  -  Memória