Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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Do cérebro humano à inteligência artificial, informação por desígnio ou ironia?
Carmen Matos Abreu

Última alteração: 2023-08-14

Resumo


  1. Painel Temático

No espaço correspondente ao Tema IV, “Médicos-cultural, memória, identidade e património” do Colóquio Internacional MEDINFOR – Medicina e Ciência da Informação, este ano na VI edição, vários romances de médico-escritores têm vindo a prestar contributo em matéria de análise e reflexão no sentido de, através da escrita, ser transmitida ao leitor informação de carácter médico-social, ou outra, considerando-se o cunho histórico conforme a periodologia que lhe corresponda. Neste MEDINFOR VI, o trabalho sobre um médico-cultural brasileiro ocupar-nos-á a atenção investigativa no que concerne à interdisciplinaridade com a Ciência da Informação, pelo que um dos seus trabalhos romanescos cumprirá os propósitos que enformam este Colóquio. Reconhecemos, pois, o privilégio de poder trabalhar uma obra do contemporâneo Augusto de Cury, distinto médico-cultural de São Paulo, Brasil. Psiquiatra por especialização, a par do exercício clínico e das imensas publicações científicas, o médico Augusto Cury tem-se ainda vindo a amplamente debruçar sobre a escrita ficcional, na qual entretece a teia de exploração da mente humana em exercício social, criando espaços cénicos com enfoque nas relações interpessoais contornadas por pensamentos, emoções e ações de incidência no quotidiano.

  1. 2. Título do trabalho

Do cérebro humano à inteligência artificial, informação por desígnio ou ironia?

  1. Objetivos

A nossa proposta de estudo, e correspondente divulgação no MEDINFOR VI, apoiar-se-á na urdidura romanesca e sua complexidade apresentada na obra O Vendedor de Sonhos – o chamamento, de Augusto Cury. Desatando-lhe os meandros nos quais se busca a informação passada a milhões de pessoas, as quais fazem parte do gigantesco corpus de leitura deste médico-escritor, são-nos oferecidos neste romance diversos quadros de superação de traumas em busca da felicidade individual e/ou coletiva que, em rasgos dialéticos onde a informação assume uma eficácia supostamente garantida, assim se conflui na resolução da problemática romanesca, com particular realce para a suprema importância da autoestima. O objetivo primordial deste estudo – o cruzamento ficcional do conteúdo deste romance vs o rigor espelhado pela Ciência da Informação –, logo nos leva a reivindicar para o trabalho de Cury a inevitável dispensa do rigor científico que, obviamente, qualquer ficção nunca poderá comportar. Porém, e não sem ironia, percebe-se quanto um romance poderá servir de aferidor ao excesso de informação produzida e consumida, ainda nos mais elaborados cadinhos científicos. No que concerne às questões relacionadas com a IA, também questionada por Cury, é intenção perceber-se qual o papel deste organizador de sistemas informativos perante o primado da Ciência da Informação, estudo este dedicado à gestão e organização de informações. Serão estes, dentre outros aspetos sujeitos a debate e a partir das mensagens deixadas na trama, os objetivos fundamentais desta apresentação.

  1. Métodos

Partindo-se do método que sustenta qualquer atividade científica, desta vez com incidência primeira em Cultura e Literatura, iniciou-se o estudo pela busca e encontro com uma obra romanesca de um médico-cultural que nos garantisse os nossos propósitos investigativos deliberados. Encontrado o nome de um escritor-médico e, dentro do seu acervo literário, de uma obra que preenchesse os requisitos no contexto MEDINFOR, a pesquisa encontrava-se parcialmente realizada. Tendo-se procedido à leitura e estudo refletido da obra, impôs-se de seguida buscar textos críticos, dentre artigos científicos, Dissertações ou Teses académicas sobre a matéria, para assim se analisar, debater, confrontar e criticar as propostas ficcionais com os objetivos que definimos. Cumpre, todavia, sublinhar que, imediatamente, não encontramos um acervo de relevo sobre estudos específicos da obra de A. Cury, por tal não duvidando do interesse e debate nos circuitos da psicologia e psiquiatria, mas sem dúvida que também nos círculos dos estudos literários, quer no Brasil quer nas universidades estrageiras em geral.  Neste momento é, pois, um processo em aberto.

  1. Principais resultados

Quanto aos resultados numa análise desta natureza, manda a honestidade científica que se reconheça serem sempre mais subjetivos e menos objetivos, e na esperada medida em que, tratando-se da argumentação sobre opiniões e conceitos, o apuramento de resultados é sempre matéria de opinião, ou seja, de grande fragilidade. Entretanto, reconhecendo-se que o principal enfoque no romance repousa na transmissão e troca de informação entre as personagens, interessante será observar-se que, confrontada com o impacto da tecnologia assegurada por sistemas de computadores, telemóveis e internet, se gera no enredo um quadro informativo, por vezes irónico, sarcástico ainda, mas certamente sobrecarregado de juízos e noções em que todos inevitavelmente mergulhamos na atual vivência diária.

  1. Conclusões

Ainda em matéria de subjetividade, sempre difícil, senão impossível, é também concluir. Porém, atentando que já em 2017, data da publicação de O Vendedor de Sonhos, e na esteira do excesso de informação se aborde a IA, acreditada por uns e desacreditada por outros, oferecem-se reflexões que o leitor explorará. A harmonização romanesca do adensamento informativo, a partir de pensamentos e atos decorrentes da riqueza, corrupção, pobreza ou desigualdade social, entre demais situações, evidencia-se por quadros de socioculturalidades de moldura contemporânea. Retratado na identidade do povo brasileiro, ainda através de referência a filmes, concertos musicais ou espetáculos de televisão, torna-se claro que todas as propostas ficcionais serão aplicáveis a qualquer sociedade. Saúde mental e dinâmica psicológica e emocional, em O Vendedor de Sonhos, são-nos apresentadas por um exemplar protagonista que sabe ouvir e compreender as dores alheias, passando insistentemente a humanitária mensagem de nunca “desistir de si” ou “desistir dos seus sonhos”, numa teia em que Medicina e Informação se interpenetram e mutuamente refletem e acautelam, irónica e sarcasticamente impulsionada por um possível desígnio chamado IA, o tal sistema que, mesmo sem cérebro humano nem identidade pátria, se vai afinal impondo em todos os setores da atividade, no caso que nos ocupa, invadindo a Medicina na Era da Ciência da Informação.

 

 

Palavras-chave: Augusto Cury, romance, informação, sociocultural