Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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Educação continuada à distância sobre terminologias, classificações, ontologias e vocabulários em saúde para profissionais que atuam no sistema de saúde brasileiro
Maria Cristiane Barbosa Galvão, Silvana de Lima Vieira dos Santos, Renata Dutra Braga, Ivan Luiz Marques Ricarte, Thais Lucena de Oliveira

Última alteração: 2023-08-14

Resumo


Introdução

A terminologia desempenha um papel fundamental, atuando como linguagem que tem por objetivo: viabilizar a comunicação especializada de forma rápida e precisa; economizar o tempo de atividades profissionais, científicas e técnicas; diminuir conflitos; e diminuir erros. O campo da saúde, assim como os demais, é marcado pela necessidade de estabelecimento de padrões de comunicação e registro das informações por meio de classificações e terminologias, a fim de que estes conteúdos informacionais possam ser acessados no futuro próximo ou distante. Desta maneira, torna-se possível, por exemplo, gerar estatísticas confiáveis sobre a mortalidade, a morbidade e a comorbidade; aferir custos e benefícios de intervenções, e avaliar a assistência prestada. No contexto da saúde digital, embora haja diversas ferramentas facilitadoras para a padronização das informações clínicas, como a existência de campos estruturados, ainda permanece a necessidade de os profissionais envolvidos na assistência em saúde saberem e decidirem quais termos ou códigos de classificação são mais adequados para descrever as condições e características de cada paciente, sendo esta atribuição uma atividade intelectual humana, com implicações jurídicas. Em outras palavras, associar incorretamente um código da Classificação Internacional de Doenças a um perfil de paciente pode resultar em “erro”, com desdobramentos variados a todos os envolvidos na assistência em saúde.

Objetivo

Compreendendo a importância do conhecimento em terminologias em saúde para embasar decisões adequadas e conscientes por parte dos profissionais de saúde, tanto no contexto digital, quanto fora dele, tomou-se como objetivo desenvolver um curso sobre terminologias em saúde à distância, usando recursos pedagógicos e comunicacionais que pudessem ser compreendidos pelos diferentes profissionais que atuam no Sistema de Saúde Brasileiro. Teve-se por objetivo secundário avaliar o grau de satisfação dos profissionais ao concluírem o referido curso.

Metodologia

Este relato de experiência apoia-se em um percurso metodológico de caráter pragmático, composto por quatro etapas principais. Na etapa 1, uma equipe multiprofissional de saúde definiu a ementa, incluindo quais terminologias em saúde deveriam ser abordadas em um curso de educação continuada à distância, bem como definiu a carga horária, as competências e o perfil do egresso do curso. Na etapa 2, um especialista em terminologia em saúde e com experiência no ensino de terminologias empregou a Teoria Comunicativa da Ciência da Terminologia para elaborar o curso, abordando as principais terminologias, classificações e vocabulários em saúde empregados no Sistema Único de Saúde, no Brasil. A partir dos princípios da Teoria Comunicativa, buscou enfatizar para cada instrumento terminológico: origem, contextos de uso e funcionalidade, exemplos de emprego no contexto clínico, exercícios para fixação dos conteúdos, disponibilização de browsers para consulta das terminologias e classificações, bem como indicação de leituras de fácil compreensão. Além disso, o curso focou as mudanças que ocorrem nas terminologias e classificações que derivam de cada momento histórico, científico e social. Na etapa 3, o material didático produzido pelo especialista em terminologia passou por um processo de revisão e editoração, resultando em um e-book, videoaulas e exercícios de fixação. Nesta etapa, também, a equipe multiprofissional desenvolveu uma enquete com 6 questões para avaliação do curso que seria oferecido aos profissionais de saúde. Na etapa 4, profissionais de saúde brasileiros realizaram o curso proposto e, ao seu final, o avaliaram de forma anônima, via enquete.

Resultados

Como resultado criou-se o curso intitulado “Terminologias, classificações, ontologias e vocabulários em saúde: uma introdução”, com 20 horas, versando sobre: Para que servem as terminologias?; Diferenças entre linguagem geral e terminologias; Principais terminologias e classificações do campo da saúde; Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde; Classificação Internacional de Atenção Primária; Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos; Classificação Internacional da Prática de Enfermagem; Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde; Terminologia Unificada da Saúde Suplementar; Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms; Current Dental Terminology; Logical Observation Identifiers, Names, and Codes; NANDA International Nursing Diagnoses: Definitions and Classification; Descritores em Ciências da Saúde. Este curso foi realizado até o momento por 280 profissionais de saúde, com destaque para os profissionais da Enfermagem, Medicina, Farmácia, Odontologia, Fisioterapia, Serviço Social, Psicologia, Sistemas de Informação e Computação, provenientes de diferentes regiões geográficas do Brasil. Os profissionais que realizam o curso ressaltam, em sua maioria, que: 1) ampliaram o conhecimento sobre terminologias em saúde, muitas das quais não sabiam da existência ou se esqueceram ao longo dos anos na prática clínica; 2) a didática empregada foi adequada pois usou videoaulas, linguagem e exemplos de fácil compreensão; 3) receber feedbacks automáticos enquanto estavam elaborando exercícios ou avaliações ajudou-os a rever e fixar o conteúdo; 4) fazer exercícios e avaliações considerando a prática clínica foi fator de satisfação e aprendizagem. Relatos negativos alegam que: 1) o curso foi muito teórico; 2) o conteúdo escrito e o conteúdo das videoaulas foram redundantes.

Conclusão

Imagina-se que profissionais que atuam no sistema de saúde possuem conhecimentos aprofundados sobre terminologias e classificações, pois devem empregá-las no cotidiano clínico. No entanto, a prática clínica por si só não parece ser suficiente para que tais profissionais consigam compreender a complexidade do uso de terminologias e classificações em saúde. Mesmo quando o profissional conhece esse conteúdo, existe ainda uma necessidade de constante atualização, uma vez que as terminologias e classificações passam por revisões periódicas envolvendo seus conteúdos, estruturas e suportes de disponibilização. Logo, o acesso ao conhecimento sistematizado, em forma de curso de educação continuada à distância, pode suprir lacunas de conhecimento existentes, como evidenciado pelas respostas dos alunos na avaliação do curso.