Última alteração: 2023-08-14
Resumo
Introdução
A terminologia desempenha um papel fundamental, atuando como linguagem que tem por objetivo: viabilizar a comunicação especializada de forma rápida e precisa; economizar o tempo de atividades profissionais, científicas e técnicas; diminuir conflitos; e diminuir erros. O campo da saúde, assim como os demais, é marcado pela necessidade de estabelecimento de padrões de comunicação e registro das informações por meio de classificações e terminologias, a fim de que estes conteúdos informacionais possam ser acessados no futuro próximo ou distante. Desta maneira, torna-se possível, por exemplo, gerar estatísticas confiáveis sobre a mortalidade, a morbidade e a comorbidade; aferir custos e benefícios de intervenções, e avaliar a assistência prestada. No contexto da saúde digital, embora haja diversas ferramentas facilitadoras para a padronização das informações clínicas, como a existência de campos estruturados, ainda permanece a necessidade de os profissionais envolvidos na assistência em saúde saberem e decidirem quais termos ou códigos de classificação são mais adequados para descrever as condições e características de cada paciente, sendo esta atribuição uma atividade intelectual humana, com implicações jurídicas. Em outras palavras, associar incorretamente um código da Classificação Internacional de Doenças a um perfil de paciente pode resultar em “erro”, com desdobramentos variados a todos os envolvidos na assistência em saúde.
Objetivo
Compreendendo a importância do conhecimento em terminologias em saúde para embasar decisões adequadas e conscientes por parte dos profissionais de saúde, tanto no contexto digital, quanto fora dele, tomou-se como objetivo desenvolver um curso sobre terminologias em saúde à distância, usando recursos pedagógicos e comunicacionais que pudessem ser compreendidos pelos diferentes profissionais que atuam no Sistema de Saúde Brasileiro. Teve-se por objetivo secundário avaliar o grau de satisfação dos profissionais ao concluírem o referido curso.
Metodologia
Este relato de experiência apoia-se em um percurso metodológico de caráter pragmático, composto por quatro etapas principais. Na etapa 1, uma equipe multiprofissional de saúde definiu a ementa, incluindo quais terminologias em saúde deveriam ser abordadas em um curso de educação continuada à distância, bem como definiu a carga horária, as competências e o perfil do egresso do curso. Na etapa 2, um especialista em terminologia em saúde e com experiência no ensino de terminologias empregou a Teoria Comunicativa da Ciência da Terminologia para elaborar o curso, abordando as principais terminologias, classificações e vocabulários em saúde empregados no Sistema Único de Saúde, no Brasil. A partir dos princípios da Teoria Comunicativa, buscou enfatizar para cada instrumento terminológico: origem, contextos de uso e funcionalidade, exemplos de emprego no contexto clínico, exercícios para fixação dos conteúdos, disponibilização de browsers para consulta das terminologias e classificações, bem como indicação de leituras de fácil compreensão. Além disso, o curso focou as mudanças que ocorrem nas terminologias e classificações que derivam de cada momento histórico, científico e social. Na etapa 3, o material didático produzido pelo especialista em terminologia passou por um processo de revisão e editoração, resultando em um e-book, videoaulas e exercícios de fixação. Nesta etapa, também, a equipe multiprofissional desenvolveu uma enquete com 6 questões para avaliação do curso que seria oferecido aos profissionais de saúde. Na etapa 4, profissionais de saúde brasileiros realizaram o curso proposto e, ao seu final, o avaliaram de forma anônima, via enquete.
Resultados
Como resultado criou-se o curso intitulado “Terminologias, classificações, ontologias e vocabulários em saúde: uma introdução”, com 20 horas, versando sobre: Para que servem as terminologias?; Diferenças entre linguagem geral e terminologias; Principais terminologias e classificações do campo da saúde; Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde; Classificação Internacional de Atenção Primária; Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos; Classificação Internacional da Prática de Enfermagem; Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde; Terminologia Unificada da Saúde Suplementar; Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms; Current Dental Terminology; Logical Observation Identifiers, Names, and Codes; NANDA International Nursing Diagnoses: Definitions and Classification; Descritores em Ciências da Saúde. Este curso foi realizado até o momento por 280 profissionais de saúde, com destaque para os profissionais da Enfermagem, Medicina, Farmácia, Odontologia, Fisioterapia, Serviço Social, Psicologia, Sistemas de Informação e Computação, provenientes de diferentes regiões geográficas do Brasil. Os profissionais que realizam o curso ressaltam, em sua maioria, que: 1) ampliaram o conhecimento sobre terminologias em saúde, muitas das quais não sabiam da existência ou se esqueceram ao longo dos anos na prática clínica; 2) a didática empregada foi adequada pois usou videoaulas, linguagem e exemplos de fácil compreensão; 3) receber feedbacks automáticos enquanto estavam elaborando exercícios ou avaliações ajudou-os a rever e fixar o conteúdo; 4) fazer exercícios e avaliações considerando a prática clínica foi fator de satisfação e aprendizagem. Relatos negativos alegam que: 1) o curso foi muito teórico; 2) o conteúdo escrito e o conteúdo das videoaulas foram redundantes.
Conclusão
Imagina-se que profissionais que atuam no sistema de saúde possuem conhecimentos aprofundados sobre terminologias e classificações, pois devem empregá-las no cotidiano clínico. No entanto, a prática clínica por si só não parece ser suficiente para que tais profissionais consigam compreender a complexidade do uso de terminologias e classificações em saúde. Mesmo quando o profissional conhece esse conteúdo, existe ainda uma necessidade de constante atualização, uma vez que as terminologias e classificações passam por revisões periódicas envolvendo seus conteúdos, estruturas e suportes de disponibilização. Logo, o acesso ao conhecimento sistematizado, em forma de curso de educação continuada à distância, pode suprir lacunas de conhecimento existentes, como evidenciado pelas respostas dos alunos na avaliação do curso.