Última alteração: 2023-08-14
Resumo
Objetivos
No contexto da Ciência Aberta e requisitos existentes para divulgação dos resultados de investigação pretende-se discutir a importância da criação de um Plano de Gestão de Dados (PGDs) como suporte ao depósito, publicação e partilha de dados para um projeto financiado pelo fundo NextGenerationEU fund.
Neste trabalho estão a ser considerados os três tópicos principais, isto é, a Ciência Aberta, os Planos de Gestão de Dados e os repositórios de dados. Assim, a Ciência Aberta reflete um contexto de acesso aberto à informação, possibilitando aos investigadores a partilha de conhecimento em ambiente aberto e de livre acesso ao público, com um alto impacto social e económico, promovendo a transparência na ciência (Comissão Europeia, 2017). Já, os PGDs visam especificar todas as questões relacionadas com a gestão de dados de investigação (GDI) no projeto e são indicados como parte dos requisitos para o cumprimento das recomendações para a Ciência Aberta e princípios FAIR (Wilkinson, 2016). Por outras palavras, os PGDs apoiam os investigadores durante o projeto tanto na recolha, processamento, descrição e organização de dados, como no depósito, preservação, disseminação e reutilização dos mesmos (Michener, 2015). Por fim, os repositórios de dados visam responder a necessidade de disseminação de resultados do projeto, possibilitando a preservação de longo prazo (Vitale, 2017).
Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é demonstrar que a criação do PGD contribui para melhor organização do projeto, e facilita e apoia os investigadores na tomada de decisão nas questões relacionadas com a escolha do repositório para depósito dos dados resultantes do desenvolvimento do projeto IPAlliance.
ContextoIPAlliance (http://i-d.esenf.pt/ipalliance/) é uma aliança multidisciplinar e interprofissional de educação em saúde que visa contribuir para um melhor controlo de doenças transmissíveis e não transmissíveis. Foi criada em 2021 entre a Escola Superior de Enfermagem do Porto, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e a Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, e é apoiada pelo fundo NextGenerationEU.
Esta parceria visa promover a requalificação dos profissionais de saúde através da formação em ambiente simulado de competências clínicas. Mais especificamente, promove a criação de um Centro de Educação em Saúde que será responsável por desenvolver programas de requalificação com foco na resposta aos desafios da saúde global, promovendo a aprendizagem em cenários simulados. O desenvolvimento dos centros de simulação fará com que o Porto Innovation District (https://estudar.esenf.pt/porto-innovation-district/), que representa uma das maiores concentrações de talento, conhecimento e inovação, se torne uma referência na educação para a saúde na Europa.
Segundo Karimova, Y., 2023, a criação dos PGDs ajuda aos investigadores refletir sobre um conjunto de questões relacionadas com GDI, tanto no depósito e partilha de dados, como na conformidade de dados e projetos com princípios FAIR e requisitos GDI no geral. O repositório de dados de investigação é uma das principais ferramentas que tornam os dados compatíveis com os princípios FAIR.
Além disso, a autora refere ainda que quanto mais cedo o PGD é criado, mais fácil é criar a estratégia de gestão de dados e escolher o repositório mais adequado às necessidades dos investigadores e ao domínio do projeto. O repositório escolhido permitirá disponibilizar os resultados de investigação e torná-los mais reutilizáveis e valiosos. Os resultados do trabalho da Karimova, Y. demonstram ainda que em alguns casos, os investigadores só começam pensar sobre repositórios de dados e partilha de dados quando começam a criar o PGD. Por outras palavras, os investigadores não têm conhecimento à priori de quais os repositórios existentes e assim não têm essa necessidade identificada. Desta forma é enfatizada a necessidade e importância na criação do PGD com vista a gestão de dados como parte da definição da estratégia do projeto. E quanto mais cedo o PGD é criado, melhor estratégia é definida, ajudando a evitar situações indesejáveis (Karimova, 2023).
Neste contexto, no âmbito do projeto IPAlliance a colaboração entre um data steward, que é um especialista de suporte de GDI, com os investigadores permite dar início a uma nova tarefa - a criação de PGD, promovendo o conhecimento sobre a GDI. Sendo o PGD visto como uma componente importante para a divulgação e disseminação de resultados e apoio na tomada de decisão.
MétodosDurante a colaboração com investigadores usamos o método colaborativo de criação de PGD proposto por (Karimova, 2021, 2022, 2023), que inclui uma série de atividades desde as entrevistas com os investigadores para compreender o contexto do projeto, análise de dados deles e publicações relacionados com projeto até à criação do primeiro draft do PGD, à sua validação com os investigadores e à sua publicação, seguida de monitorização e evolução (Figura 1). Essas atividades também permitem o apoio à tomada de decisão para a escolha do repositório para depósito dos dados. Seguindo este método, o data steward aconselha sempre um repositório mais adequado às necessidades dos investigadores, seja ele institucional ou outro mais apropriado.
Figura 1. The collaborative DMP-building method (Karimova, 2021)
Embora o IPAlliance não tinha a criação do PGD como requisito obrigatório, a aplicação deste método permitiu o contacto com um data steward, identificando os benefícios de criação do plano e mostrando a importância do mesmo tanto para a definição de estratégia de GDI no geral, como na tomada da decisão de escolha de repositórios de dados.
Para a criação do PGD foi definido um fluxo de trabalho com o objetivo de descrever os dados que vão ser recolhidos, tratados e divulgados durante e após a execução do projeto.
ResultadosA colaboração com os investigadores do projeto IPAlliance resultou na criação da primeira versão do Plano de Gestão de Dados do IPAlliance e no apoio da escolha do repositório de dados de investigação mais apropriado para caso de IPAlliance. Tanto o plano como os dados serão publicados no Zenodo na comunidade criada para o projeto.
Além disso esta experiência permitiu aos investigadores definir a melhor estratégia de gestão de dados de investigação do projeto em geral, conhecer as boas praticas de GDI existentes na comunidade, melhorar o conhecimento relacionado as questões e atividades de GDI e ainda aproximar os investigadores das recomendações e requisitos de Ciência Aberta, promovendo a divulgação e reutilização dos dados, garantindo o cumprimento dos princípios FAIR.
ConclusõesOs resultados mostram que o PGD mesmo não sendo um requisito obrigatório ajuda a definir a estratégia de gestão de dados, escolher o repositório mais apropriado para dados deste domínio científico, planeando antecipadamente todos os recursos necessários. Mais ainda, destaca-se que a gestão de dados deve começar na fase inicial do projeto e o PGD pode ser visto como instrumento de apoio de tomada de decisão na divulgação de dados, garantindo a usabilidade e reutilização dos resultados produzidos.
Referências
European Commission (2021). Open Research Data and Data Management Plans. 2021.
European Commission (2017). Guidelines on the implementation of Open Access to scientific publications and research data in projects supported by the European Research Council under Horizon 2020..
European Commission (2017). H2020 Programme: Guidelines to the Rules on Open Access to Scientific Publications and Open Access to Research Data in Horizon 2020. 2017.
Hudson-Vitale, C. (2017). The Current State of Meta-Repositories for Data. University Libraries Publications. In: Curating Research Data, Volume One: Practical Strategies for Your Digital Repository. Ed. by L. R. Johnston. Association of College and Research Libraries, p. 251–261. https://openscholarship.wustl.edu/lib_papers/19
Karimova Y., Ribeiro C., David G. (2020). Institutional Support for Data Management Plans: Five Case Studies. Research Conference on Metadata and Semantics Research, p. 308–319. https://doi.org/10.1007/978- 3- 030-71903-6_29
Karimova Y., Ribeiro C., David G. (2021). Institutional support for data management plans: case studies for a systematic approach. International. Journal of Metadata, Semantics and Ontologies 15(3), 178–191. https://doi.org/10.1504/ijmso.2021.123041
Karimova, Y, (2023). Research data description in multiple domains: supporting researchers with data management plans. Doctoral Thesis. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Michener W.K. (2015) Ten Simple Rules for Creating a Good Data Management Plan. PLoS Comput Biol 11(10): e1004525. https://doi.org/10.1371/journal.pcbi.1004525
Wilkinson, M., Dumontier, M., Aalbersberg, I. et al. (2016). The FAIR Guiding Principles for scientific data management and stewardship. Sci Data, 3, 160018. https://doi.org/10.1038/sdata.2016.18