Introdução

De acordo com a World Federation of Occupational Therapy, a Terapia Ocupacional é uma profissão de saúde centrada no cliente, preocupada em promover a saúde e o bem-estar por meio da ocupação. O principal objetivo da Terapia Ocupacional é permitir que as pessoas participem das atividades da vida cotidiana. No Brasil, esta profissão teve início em 1957, em São Paulo, no Instituto de Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e no Rio de Janeiro, na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação. Os primeiros cursos tiveram ênfase na área física voltada à reabilitação, objetivando desenvolver as capacidades funcionais e residuais. Atualmente, a profissão conta com diversas áreas de atuação, dentre eles, contextos hospitalares, escolares, sociais, saúde mental, saúde da família e gerontologia. Ademais, durante o processo de formação do graduando de Terapia Ocupacional, é importante que ele desenvolva habilidades relacionadas à competência informacional, a fim de adquirir habilidades necessárias em seu processo de aprendizagem e na formação de seu raciocínio clínico. Como já conhecido, a competência informacional inclui as capacidades de identificar a informação que se precisa para solucionar um problema, saber buscar tais informações em fontes adequadas, compreender os conteúdos informacionais acessados, empregar informações de qualidade no dia-a-dia, bem como disseminar informações na comunidade em que se vive. Dessa forma, torna-se importante compreender como os graduandos de Terapia Ocupacional percebem suas habilidades informacionais e as aplicam em seu cotidiano, uma vez que tais conhecimentos apresentam grande relevância ao seu processo de construção profissional.

Objetivo

Teve-se por objetivo verificar a percepção dos graduandos de Terapia Ocupacional do Brasil sobre suas competências informacionais, incluindo os processos de buscar, avaliar, organizar e comunicar informações.

Métodos

Realizou-se um estudo exploratório, transversal e qualitativo, empregando-se entrevistas individuais com perguntas abertas para explorar e descrever as percepções dos participantes. Os critérios de inclusão para participação foram graduandos do Curso de Terapia Ocupacional, matriculados em universidades brasileiras e que possuíam 18 anos ou mais. A amostragem em bola de neve foi usada para atender ao escopo de recrutamento, sendo divulgado o convite em redes sociais e e-mails institucionais de universidades de todas as  regiões do Brasil. Para o perfil sociodemográfico, foram utilizadas questões estruturadas referentes à: idade, gênero, raça, renda, local de moradia e conectividade à Internet. No roteiro de entrevista, havia também uma questão aberta, qual seja: “Nos últimos anos, você tem percebido alguma alteração em seu comportamento de buscar, avaliar, organizar e comunicar informação? Discorra”. Os dados foram coletados por meio da plataforma REDCap, versão 10.9.3 2021, desenvolvida e disponibilizada pela Vanderbilt University (Estados Unidos) e instalada em servidor de uma universidade brasileira. Para os dados referentes ao perfil sociodemográfico, foi realizada análise descritiva e, para os dados das entrevistas, foi utilizada a análise de conteúdo. O projeto foi submetido e aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, no Brasil.

Resultados

Entre o período de 20 de março de 2023 e 30 de maio de 2023, 180 participantes responderam ao roteiro da entrevista. Destes, 166 participantes eram do gênero feminino (92,2%,) e 14 do gênero masculino (7,8%). Em relação à raça, 106 eram brancos (58,9%), 46 pardos (25,6%), 25 pretos (13,9%) e 3 amarelos (1,7%). A média de idade dos participantes foi de 25,6 anos e todos são de nacionalidade brasileira (180, 100%). Além disso, 160 (88,9%) participantes declaram ser de instituições de ensino públicas, e 20 (11,1%) de instituições de ensino privadas, sendo a maior parte na unidade de federação de São Paulo (57, 31,7%).  No que se refere à questão  “Nos últimos anos, você tem percebido alguma alteração em seu comportamento de buscar, avaliar, organizar e comunicar informação? Discorra”, a análise de conteúdo permitiu a identificação de três categorias com maior frequência, quais sejam: 1) Expansão de repertórios ao longo da graduação, na qual foram observados diversos relatos referentes ao aumento do repertório que os graduandos possuem, ao comparar com o momento em que iniciaram a carreira acadêmica; 2) Aprendizagem de realizar busca de informações em fontes confiáveis, na qual os participantes elaboraram reflexões referentes à aprendizagem desenvolvidas para realizar uma busca de informações em fontes confiáveis; 3) Mudanças no comportamento de busca e avaliação de informações pós-pandemia, na qual  os participantes discorreram sobre mudanças positivas em seu comportamento de busca e avaliação de informações, tais como buscar embasamento científico em notícias, uso de plataformas digitais confiáveis como fonte de informação e uso de bases de dados, praticidade do acesso à informação online.

Conclusão

Este estudo observou a percepção dos graduandos de Terapia Ocupacional do Brasil sobre suas competências informacionais e as mudanças percebidas no processo de buscar, avaliar, organizar e comunicar informações. Por meio dos resultados, é possível observar a importância do ensino baseado em evidências em nível da graduação a fim de garantir maior qualidade na prestação de serviços pelos futuros profissionais de Terapia Ocupacional. Neste sentido, os estudantes relatam mudanças em suas competências informacionais, principalmente nos aspectos relacionados com a expansão de repertórios ao longo da graduação, aprendizagem de realizar busca de informações em fontes confiáveis e mudanças positivas no comportamento de busca e avaliação de informações no período pós-pandemia de Covid-19. Adicionalmente, percebe-se que, embora tenham ocorrido muitas mudanças nos processos de ensino-aprendizagem em decorrência das limitações sanitárias impostas durante a pandemia, um aspecto positivo desse momento histórico foi ampliar o leque de opções para o acesso da informação no campo da saúde, conforme relato dos participantes do estudo.