Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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Ernesto Roma – Associativismo e cultura.
Paulo Manuel Gonçalves

Última alteração: 2023-08-14

Resumo


Introdução

Ernesto Galeão Roma é um médico muito conhecido como especialista no campo da diabetes e pela forma inovadora como concebeu a relação médico doente, que aprendeu no seu estágio em Boston, nos anos de 1922 e 1923, com Richard Clarke Cabot.

De volta a Portugal aplicou os seus conhecimentos de uma forma original e muito característica da sua personalidade – fundou, em 1926, uma associação de apoio aos Diabéticos, a APDP – Associação Protectora dos Diabéticos Pobres/ Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.

Apesar do grande empenho e das muitas horas de trabalho consagradas à prática clínica, à docência em várias instituições e à gestão e direcção clínica da APDP, Roma encontrou ainda energias para se entregar a um projecto cultural e associativo de grande importância no Portugal do século XX.

Objectivos.

Nesta comunicação, de acordo com a área temática do congresso, vamos dar a conhecer as actividades culturais desenvolvidas por Ernesto Roma, numa área externa à medicina – o estudo da história da alimentação e da gastronomia, que o integra no âmbito do conceito operatório de “médico-cultural”.

Esta actividade é muito pouco conhecida e referida apenas de passagem nas obras de caracter biográfico que lhe têm sido dedicadas. Com a nossa comunicação, baseada num trabalho de investigação no âmbito da Ciência da Informação, iremos mostrar uma faceta quase completamente desconhecida de Ernesto Roma.

As notáveis contribuições de muitos médicos para o estudo de outras áreas do conhecimento e o seu cultivo com elevado nível, nomeadamente na literatura, foi sintetizada no célebre adágio da autoria de um médico catalão e popularizado em Portugal por Abel Salazar: «O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe»

Ernesto Roma não foi excepção e durante toda a sua vida atribuiu uma elevada importância ao campo da alimentação e gastronomia deixando um legado que iremos expor de forma sucinta.

Métodos.

O tratamento dos Arquivos, bibliotecas e objectos de museu segundo princípios científicos como os propostos pela Escola do Porto, em Portugal, nomeadamente o conceito fundamental do respeito pela organicidade das entidades produtoras, coloca grandes exigências aos arquivistas que têm de desenvolver competências de investigadores e abordar campos que são comuns a outras ciências humanas.

Quando um cientista da informação estuda os sistemas de informação, segundo os referidos princípios científicos consensuais em vigor, produz conhecimento histórico e não apenas um mero aporte técnico. Conhecimento que lhe compete aprofundar e divulgar sem qualquer menorização perante outras áreas do conhecimento.

Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa existe um projecto, dirigido por Lurdes Rosa, de Arquivística Histórica, em que historiadores estudam os Arquivos de Família aplicando as propostas de Malheiro da Silva, para essa tipologia de Arquivos.

Aos cientistas da informação, compete também fazerem a história dos sistemas de informação, a par dos historiadores e de outros investigadores das ciências sociais.

O tratamento e estudo dos recursos informacionais de Ernesto Roma e da Sociedade Portuguesa de Gastronomia proporciona uma visão rigorosa e abrangente sobre as suas actividades fora da área da medicina. A partir desta base iremos expor os principais resultados obtidos.

Principais resultados.

1- Apresentar os aspectos fundamentais dos traços biográficos e da personalidade do médico Ernesto Roma, que, além de terem sido a base do grande contributo que deu para a medicina em Portugal, estiveram também na origem do notável contributo para a história da alimentação e do estudo e desenvolvimento da gastronomia e da sua ligação com o turismo em Portugal.

2- Sublinhar a forma de intervenção na sociedade que foi eleita preferencialmente por Ernesto Roma: a fundação e a participação em associações.

3- Referir os dez médicos amigos de Ernesto Roma, que foram sócios da SPG, com breves notas sobre as suas personalidades e sobre as actividades que realizaram.

4- Descrever as principais características dos sistemas de informação identificados, nomeadamente o Arquivo Pessoal de Ernesto Roma e o Arquivo da SPG – Sociedade Portuguesa de Gastronomia.

5- Enumerar algumas das relações com outros sistemas de informação da área da medicina.

6- Descrever os documentos mais significativos das séries produzidas pela Sociedade e por Ernesto Roma e os livros por eles reunidos que formam um conjunto de grande unidade e significância.

7– Identificar as causas que contribuíram para que Ernesto Roma não conseguisse realizar o seu principal objectivo nesta área: a publicação de uma grande obra de referência sobre alimentação e gastronomia assim como as respectivas ligações com o turismo e a cultura portuguesa em geral.

8- Destacar a grande importância, valor cultural e riqueza da documentação preparatória da referida obra, como também o especial valor por ter ficado inédita.

Conclusões

O estudo das incursões dos médicos em outros campos do conhecimento em especial na literatura, na arte e nas atividades humanísticas em geral é uma característica marcante da classe e por isso é de grande importância o seu estudo e divulgação para uma melhor compreensão da história da medicina em Portugal.

Pelo seu contributo técnico-científico e cultural é necessário elaborar o maior número possível de biografias de médicos, pois em Portugal a falta de biografias, em todas as áreas, é um elemento negativo da cultura portuguesa, como já destacou o historiador Oliveira Marques.

Tal desiderato só pode ser alcançado pelo tratamento dos recursos informacionais, com métodos científicos.

A importância do estudo, da organização e da descrição dos sistemas de informação das pessoas e instituições da área da medicina e sua divulgação é uma necessidade fundamental.

No caso específico que foi objecto desta comunicação é necessário estudar as formas de divulgar a documentação e os usos que poderá ter, nomeadamente pela promoção de estudos académicos.