INTRODUÇÃO: A produção do conhecimento científico, em qualquer área do saber, é fruto de constantes discussões e reconstruções de paradigmas relacionadas com as teorias e métodos adotados a partir da criação e aprimoramento de novos conceitos e até mesmo a negação de alguns já existentes, considerados obsoletos. Em muitas situações, o entendimento sobre algum assunto somente poderá ser amplamente concebido, quando o objeto de estudo estiver sendo analisado a partir de um olhar holístico, a fim de identificar as dificuldades coexistentes por meio das relações interdisciplinares que, segundo Pombo(2005), fazem com que as disciplinas dialoguem entre si e proporcionem renovadas perspectivas estabelecendo, em algum nível, interação entre elas. Entretanto, um estudo interdisciplinar só cumprirá o seu objetivo na medida em que os seus participantes sejam capazes de adotar certa linguagem comum(Japiassu, 1976). No tocante à Ciência da Informação(CI), um dos seus fundamentos epistemológicos é a pluralidade da sua relação com outras áreas do conhecimento devido aos seus aspectos históricos e teóricos e às suas relações interdisciplinares, partindo de três fatores que se entrelaçam: a complexidade do objeto informacional, a formação plural de seus pesquisadores e a consequente convergência disciplinar com disciplinas que fazem interface com a área(Silva, 2009; Silva & Souza, 2016). Borko(1968) definiu a CI como uma área interdisciplinar que se relaciona com a Matemática, Lógica, Linguística, Psicologia, Tecnologias, Comunicação, Administração e Ciências da Saúde. Para este estudo, o destaque é a interrelação da CI, enquanto Ciência Social cujo objeto de estudo é a informação, com as Ciências da Saúde, que lidam constantemente com informação clínica, científica e administrativa, indispensável ao funcionamento dos serviços de saúde (Ribeiro,2009) e à satisfação das necessidades de todos os Stakeholders envolvidos no processo (Marques, 2012).

OBJETO DE ESTUDO: Partindo destas interlocuções, em 2008 foi realizado em Salvador/Bahia/Brasil, o MEDINFOR, organizado pela Universidade Federal da Bahia(UFBA) e pela Universidade do Porto(UP).  O objetivo principal deste projeto é o de fomentar o estreitamento entre os profissionais da Informação, Saúde, Cultura, Humanidades, Ciências da Computação, entre outras, na concepção da reciprocidade e interrelacionamento do conhecimento. Ressalta-se que o MEDINFOR é originário de um escopo que permanece oportunizando debates sobre temáticas da Medicina, Memória, Identidade e Cultura relacionadas com a C.I. É oriundo da concretização dos estudos de pós-doutoramento “Os médicos e a cultura: estudo crítico e guia geral dos arquivos de médicos escritores, artistas e pensadores de Portugal e Bahia – Brasil”, da professora titular (catedrática) da UFBA, Zeny Duarte de Miranda, com contribuições dos professores catedráticos da UP, Armando Malheiro Silva e Fernanda Ribeiro. O Colóquio já está em sua sexta edição, sendo realizado trienalmente (2008, 2011, 2014, 2017, 2020 e 2023). O MEDINFOR foi escolhido por ser um evento interdisciplinar que envolve diversas áreas do conhecimento, e que demonstra de uma forma inequívoca que não há fronteiras entre as áreas do saber(Duarte & Farias, 2009).

OBJETIVO: Analisar o caráter interdisciplinar do MEDINFOR e o seu impacto nas diversas áreas do conhecimento. Para atingir este pressuposto, é necessário descrever as distribuições dos painéis temáticos do referido evento por meio dos programas de 3 edições; identificar o nível da interdisciplinaridade existente a partir da análise dos temas das palestras  e comunicações apresentadas e publicadas nos 5 livros do citado evento e analisar as relações existentes entre os temas das comunicações com as áreas agregadas pelo MEDINFOR.

METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, que teve como universo a produção científica oriunda do evento MEDINFOR. Assim, além do levantamento documental, foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Para esta, a revisão da literatura, complementada pela análise das fontes do próprio Colóquio, serviu para caracterizar melhor o contributo teórico, verificar o nível de dificuldade encontrada no estudo e perceber a realidade empírica do objeto tratado(Coutinho, 2015). O mapeamento da produção científica do referido Colóquio foi realizado a partir do repositório da EDUFBA e da Biblioteca física do CITCEM/FLUP/UP, encontrando-se 5 livros impressos/digitais com os textos completos das palestras e comunicações, e a edição especial da Revista Fontes Documentais, em formato eletrônico, que contém os resumos alargados apresentados. Destas produções bibliográficas, foram analisadas três edições do Colóquio realizadas nos anos de 2008, 2014 e 2020, partindo do seguinte critério: a fim de acompanhar o processo evolutivo das produções do Colóquio, foram então escolhidos livros: “A Medicina na Era da Informação”(2009) – da primeira edição; “Informação e Saúde: percursos de interdisciplinaridade”(2016) – da terceira edição; e “A Informação e a Medicina em Tempos de Pandemia: impactos humanos e sociais”(2022) – da quinta e última edição. Na etapa descritiva, adotou-se a análise de conteúdo, procurando compreender as condições da produção colaborativa nos domínios das Ciências da Saúde, Ciências da Computação, Ciências  Sociais, Cultura e Humanidades por meio dos elementos teórico-metodológicos que contribuem para a efetividade da produção interdisciplinar na CI.

RESULTADOS: Foram analisados 231 capítulos, de 263 autores das publicações do Colóquio, detectando ao longo das edições uma evolução do evento em número de produções e de quantidade de temas abordados, sendo Saúde-Informação-Comunicação-Tecnologias-Cultura-Memória as principais áreas de investigação. Observou-se que as produções apresentadas impulsionam o evento a um outro patamar, o da transdiciplinadidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os dados analisados permitiram apurar o modelo organizativo do evento, de forma a reforçar a sua identidade e a apontar caminhos para a sua continuidade, tendo em vista que o aprofundamento da relação interdisciplinar – transdisciplinar – fomentada pelo MEDINFOR revela pontos de convergências potencializadores e profícuos.

REFERÊNCIAS

Borko, H. (1968). Information Science: what is it? American Documentation, [S. l.], n.19 (1), p. 3- 5. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/asi.5090190103.

Coutinho, C. P. (2015). Metodologia de investigação em Ciências Sociais de Humanas: teoria e prática (2.ª Ed.). Edições Almedina

Duarte, Z.; Farias, L. (Org.). (2009). A Medicina na Era da Informação. Salvador:EDUFBA; Porto: FLUP/U.Porto/CITCEM.

Duarte, Z.; Pestana, O.; Abreu, C. M. (Org.). (2016). Informação e Saúde: percursos de interdisciplinaridade. Salvador: EDUFBA; Porto: FLUP/U.Porto/CITCEM.

Duarte, Z.; Ribeiro, F.; Silva, A. M. da (Org.) (2022). A Informação e a Medicina em Tempos de Pandemia: impactos humanos e sociais. Salvador, Brasil: EDUFBA; Porto: FLUP/U.Porto/CITCEM.

Japiassu, H. (1976). Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago.

Marques, M. B. P. S. M. (2012). A satisfação dos clientes dos serviços de informação: As bibliotecas públicas da região centro. (Tese de Doutoramento) Acedido em Repositório Institucional da Universidade de Coimbra (https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/20462) [Consult. 1 Abril 2023].

Pombo, O. (2005). Interdisciplinaridade e integração dos saberes. Liinc em Revista, n.1 (1), p. 3 -15. Acedido em:: DOI: https://doi.org/10.18617/liinc.v1i1.186

Ribeiro, F. (2009). Medicina e Ciência da Informação: uma abordagem integradora e interdisciplinar. In: Duarte, Z.; Farias, L. (Org.). A Medicina na Era da Informação. Salvador, Brasil: Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA). Salvador, pp. 111-125. Acedido em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14090/2/Medicinaeci000073397.pdf

Silva, Z. C. G. da; Souza, E. D. (2016). A produção interdisciplinar na Ciência da Informação: fundamentos teórico-metodológicos da arquitetura da informação. In: 17º Encontro Nacional De Pesquisa Em Ciência da Informação (Enancib),  Salvador, UFBA, nov. Acesso em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/188819