Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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Estratégias de comunicação nutricional no YouTube: qual a avaliação dos futuros profissionais.
Caio Julius Mamedes Ribeiro, José Azevedo, Patrícia Padrão, Mariana Costa, Joana Rodrigues, Adriana Fogel

Última alteração: 2023-08-14

Resumo


Painel temático da conferência: Comunicação e Divulgação Científica


Título - Estratégias de comunicação nutricional no YouTube: qual a avaliação dos futuros profissionais.


Introdução: A comunicação online de temas científicos está a tornar-se cada vez mais significativa. Na UE, mais de 80% dos adultos utilizam a Internet para se informarem sobre ciência e investigação em geral. A comunicação sobre temas relacionados com a alimentação e a nutrição está, por sua vez, a registar um crescente volume de produção de conteúdos com presença online. Os exemplos de debates, polémicas, ou simplesmente exibição de consumos alimentares nas redes sociais é quotidiano. Além disso, os especialistas em nutrição utilizam cada vez mais as redes sociais para transmitir conhecimentos e promover mudanças comportamentais da população. Para que este esforço seja bem-sucedido, é crucial identificar formatos de comunicação eficazes. Tanto mais que, em tempos de desinformação e informações falsas, a ciência tem sido questionada, e observa-se, de forma preocupante, a erosão da confiança em instituições como a Organização Mundial da Saúde, evidenciada durante a pandemia do COVID-19.

Parte deste fenómeno pode ser explicado pela perspectiva do mercado da atenção, onde variados  aplicativos disputam o nosso olhar com uma diversidade infinita de estímulos e propostas. Diante do desafio significativo que os comunicadores de ciência têm de se fazerem ouvir, volta-se o interesse para a divulgação de informações daquilo que parece ser a novidade ou a recomendação mais sugerida pelos stakeholders mais reconhecidos. A volatilidade deste conhecimento é imenso e torna necessário entender quais variáveis que levam os indivíduos a escolher um conteúdo em detrimento de outro, com o objetivo de identificar melhores estratégias para a comunicação de Ciências da Nutrição.

De particular interesse, e pouco abordado na investigação até ao momento,  é como os futuros profissionais de uma determinada área científica, neste caso Ciências da Nutrição,  se colocam perante esta informação.  Como é que as suas aprendizagens informais se cruzam com a aprendizagem formal, quais as suas preferências e consumos neste campo. O contexto escolhido foi o da plataforma YouTube, considerado globalmente como um dos mais relevantes.


Métodos: Um conjunto de vídeos foram desenvolvidos, com objetivos educacionais, sobre as principais dietas que estão a ser promovidas na esfera pública (jejum intermitente, a dieta paleolítica, a cetogênica, o vegetarianismo, dieta mediterrânica, etc.). A receção dos vídeos foi avaliada através de um inquérito que incorporava diferentes aspectos técnicos, e o branding percecionado a partir do vídeo. O branding, aqui, se refere à percepção dos espectadores quanto à fundamentação do conteúdo em evidências científicas, tida como um dos objetivos principais do projeto. O inquérito foi administrado, após o visionamento de um vídeo, sobre o jejum intermitente, a um conjunto de estudantes do segundo ano da licenciatura em Ciências da Nutrição da Universidade do Porto. A amostra totalizou 65 estudantes, sendo 58 dos sexo feminino e 7 do sexo masculino.


Principais Resultados: Os resultados sobre as frequências de consumo online sobre nutrição e plataformas utilizadas pelos respondentes são apresentados e discutidos. O cruzamento dessa informação, e um conjunto de outras variáveis (avaliação da qualidade técnica, preferências de tipo de apresentação, efeitos da afinidade percebida em relação aos apresentadores, a possibilidade de tomar decisões com base nas informações disponibilizadas no vídeo, percepção da fundamentação do vídeo em evidências científicas, branding), é também analisado. O Instagram, os podcasts e  o YouTube se destacaram, nessa ordem, entre as fontes de informações preferidas pelos indivíduos participantes, superando, inclusive, textos e artigos científicos (os participantes podiam escolher mais de uma opção). Dada a amostra, cruzamentos de diferenciação de género não foram possíveis. Também foram avaliadas as possíveis razões, caso assim indicado, que levariam os participantes a não assistirem ao conteúdo, em sua completude, fora do ambiente de intervenção. Entre os pontos indicados, a duração do vídeo, percebida como longa (pouco mais de 5 minutos), a abordagem utilizada pelos interlocutores, qualidade inferior em comparação a outros produtos audiovisuais consumidos, e a percepção do vídeo como aborrecido, foram algumas das razões citadas.


Conclusões: A análise dos resultados levantou questões importantes no que tange à comunicação de ciência em geral e à comunicação de Ciências da Nutrição em particular. Investigou-se quais fontes ou plataformas são preferidas para o consumo de conteúdo nutricional. Também foi investigado quais as variáveis que interferem no consumo, dos futuros profissionais da área, de produtos audiovisuais de comunicação de ciências de nutrição. O posicionamento do conteúdo como ‘fundamentado em evidências científicas’ parece ser importante para a tomada de decisões e, para que este posicionamento seja percebido, os dados apontam que há relação com a clareza da linguagem e também com o uso de gráficos e outros recursos visuais que facilitem a compreensão do vídeo. A afinidade percebida em relação aos interlocutores do vídeo também parece ter relação com avaliações positivas do conteúdo audiovisual, inclusive, quanto às variáveis técnicas. O presente trabalho indica possibilidades de futuros direcionamentos de pesquisa, como a avaliação mais profunda de estratégias de posicionamento de produtos de comunicação de ciência, e também a percepção de outros públicos sobre as mesmas variáveis aferidas.  A preferência pelas fontes mencionadas, como apontada pelos dados obtidos, reforça a necessidade da comunicação de Ciências da Nutrição acompanhar o movimento de distanciamento do modelo deficitário de comunicação de ciência, em direção a um modelo dialógico de co-criação, como descreve a literatura mais recente disponível.


Palavras-chave: Nutrição, YouTube, Comunicação de Ciência, Educação alimentar e nutricional.