Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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A SAÚDE COLETIVA EM REPRESENTAÇÃO: UMA INICIATIVA A PARTIR DA TEORIA DO CONCEITO DE DAHLBERG
Denise Oliveira de Araújo, Márcio Bezerra da Silva, Elmira Luzia Melo Soares Simeão, Zeny Duarte de Miranda

Última alteração: 2023-08-14

Resumo


INTRODUÇÃO

A Saúde Coletiva apresenta-se como um campo fértil para a produção de informações em Saúde, pela sua atuação nas sociedades, direcionando políticas de assistência e combate às desigualdades, conforme metas do objetivo terceiro da Agenda 2030, o qual pertence aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Segundo Faerstein  (2023), o terceiro objetivo está voltado à saúde e bem-estar global. Pensar assim é alinhar-se ao que defende Targino (2009, p. 52), quando ela afirma que informação em Saúde é um “[...] elemento fundamental no processo de tomada de decisões no âmago das políticas públicas, visando elevar a qualidade de vida das nações”. A importância social da Saúde Coletiva é notável, mas o que ela significa? Considerando o preâmbulo, o qual incentivou o contato com a temática, o artigo objetivou conceituar a Saúde Coletiva. Especificamente, o artigo identificou características que compõem o campo estudado e ilustrou o conceito alcançado segundo um mapa conceitual (MC), considerando um modelo de representação do conhecimento (RC) que possibilita significar um domínio, um objeto em específico.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo se baseou no método dedutivo de raciocínio, partindo de um universo genérico de características que qualificam a Saúde Coletiva, ao passo que se qualifica como descritiva, bibliográfica e qualitativa. O levantamento bibliográfico ocorreu de setembro de 2021 até junho de 2022, a partir de expressões de busca. A Teoria do Conceito de Ingetraut Dahlberg foi utilizada como referencial para a aplicação do método analítico-sintético no processo de conceituar a Saúde Coletiva, a partir da identificação e compilação de atributos. Para a estrutura conceitual da Saúde Coletiva, construiu-se um MC no software livre CmapTools.

 

RESULTADOS

Diante do empreendimento de realizar um levantamento bibliográfico, foi possível identificar atributos que caracterizam a natureza do domínio estudado, bem como predicados que guardam relações hierárquicas e associativas (ou coordenadas) com o campo. O Quadro 1 sintetiza o corpus coletado, de acordo com os preceitos de Dahlberg.

 

Quadro 1 – Características da Saúde Coletiva.

APORTE

DESCRIÇÃO

É espécie de

(Relação Hierárquica)

Saúde (maior extensão em relação à Saúde Coletiva).

É superordenada à

(Relação Hierárquica)

Saúde Pública (maior intensão em relação à Saúde Coletiva). Lida com questões relativas à Saúde Coletiva, englobando as características dela. Não obstante, especifica-se pela ligação com o Estado para a concepção de políticas, ações e serviços de subsídio ao alcance de condições sanitárias adequadas à população (Gomes, 2018; Jorge & Albagli, 2018; Lage & Lunardelli, 2020).

Concatena-se via características comuns

(Relação de Coordenação -

intensão “equivalente”)

Informação em Saúde. Pode ser representada por dados de pesquisa, que se materializam em uma pluralidade de fontes de informação (livros, artigos de periódicos, relatórios, patentes, ensaios clínicos, dissertações e teses etc.).

Concatena-se via característica comum com

Relação de Coordenação (intensão “equivalente”)

Áreas afins: Ciências Sociais (por exemplo: Políticas Públicas; CI; e Direito) e Ciências Humanas em Saúde (por exemplo: Odontologia; Enfermagem; Fisioterapia; Medina; Farmácia; Nutrição; e Educação Física); e Ciências Humanas (por exemplo: Psicologia) (Gomes, 2018; Lage & Lunardelli, 2020; Osmo & Schraiber, 2015; Universidade Federal Fluminense, 2019).

Relação especificamente com a CI: aportes para o desenvolvimento e análise de pesquisas científicas; subsídio na mediação da Informação em Saúde entre pesquisadores e sociedade; desenvolvimento de ações de COINFO em Saúde. (Gomes, 2018).

É essencialmente atrelada a

(Características essenciais)

Fases constituintes: 1) Fase Pré-Saúde Coletiva (1955-1970), com a estruturação do Projeto Preventivista que criticava a Medicina praticada à época, se opondo à biologização do ensino e agregando estudos centrados em temas como Epidemiologia, Ciências da Conduta, Administração e Serviços de Saúde e Bioestatística; 2) Fase da Medicina Social (1970-1979), assentada em manifestações sociais intelectuais e em prol da população, reivindicando a melhoria de condições de saúde de imigrantes e indivíduos menos abastados; 3) Fase da Saúde Coletiva (1980-1994), que ascende no âmbito do regime militar brasileiro e da Reforma Sanitária Brasileira (RSB), possuindo cunho reformista, social e crítico contrário à privatização da Saúde e tendo como um de seus feitos a mobilização para criação do Sistema Único de Saúde (SUS) (Paim & Almeida Filho, 1998; Nunes, 1998, 1994; Osmo & Schraiber, 2015; Schraiber, 2008; Vieira-da-Silva; Paim & Schraiber, 2014).

Atributos: Campo transdisciplinar e científico (ou seja, é considerada uma Ciência); movimento social; reinvindicação de direitos sociais; democratização da Medicina; estudo de condições sanitárias (analisar a gênese de doenças e formular estratégias de prevenção/mitigação); compreender como a coletividade percebe as questões ligadas à Saúde. (Gomes, 2018; Osmo & Schraiber, 2015).

Áreas básicas: Epidemiologia; Política, Planejamento e Gestão em Saúde; e Ciências Sociais em Saúde (Universidade Federal Fluminense, 2019).

Pode se associar

(Característica acidental)

Avanço científico associado a Programas de Pós-Graduação (PPGs) em Saúde Coletiva (Lage & Lunardelli, 2020).

Fonte: Dos autores, 2022.

 

O conjunto de características e relações (Quadro 1) possibilitaram a construção de uma estrutura conceitual (preliminar) para o domínio da Saúde Coletiva. Assim, a representação imagética via MC, em linha aos preceitos da Teoria do Conceito, possui relações hierárquicas e coordenadas subjacentes à Saúde Coletiva, bem como as características que a compõem e a fases pelas quais passou no Brasil.

 

CONCLUSÃO

Concluiu-se que a Saúde Coletiva, essencialmente, é compreendida como um campo científico transdisciplinar, orientado pelas Ciências Sociais, pela Epidemiologia, pela Política e pelo Planejamento e Gestão em Saúde, que se mostra preocupado com os direitos sociais, com a democratização do acesso à Medicina, com a otimização das condições sanitárias da coletividade e com a compreensão que a sociedade possui sobre o que concerne à Saúde.