Última alteração: 2025-04-10
Resumo
Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa em desenvolvimento no âmbito da Teoria da Memória sobre a perspectiva de Maurice Halbwachs, da Logoterapia e Análise Existencial (LAE) de Viktor Frankl e da Ciência da Informação (CI). Aqui serão explorados alguns postulados de Halbwachs, tais como: memória coletiva e noção de recordação, as quais os médicos-cultural se atrelam e a curadoria faculta à conservação patrimonial e à disseminação cultural. Assim, a motivação deste estudo se encontra também alicerçada nos conceitos de Frankl concernentes ao sentido do trabalho, à dimensão noética, à autotranscedência e ao binômio liberdade-responsabilidade.
Fez-se este estudo com o objetivo de destacar as (re)construções do sujeito médico que, além da seara da sua formação científica, abarca de modo sincrônico ou complementar outras áreas culturais como, por exemplo, a literatura, a filosofia e as artes. Ademais, pode-se destacar, com base em um conjunto de dados midiáticos e acadêmicos através das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), dentre elas, a ferramenta tecnológica SIS Médicos, “uma plataforma digital, referencial e bibliográfica para o estudo de personalidades, acervos pessoais, institucionais e culturais” (DUARTE; SILVA, 2016, p. 23).
Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é analisar os médicos-cultural em sua dimensão noética, que se constrói ao considerar o ser humano enquanto unitas multiplex – um ser uno e total em sua dimensão biopsiconoética inserido num meio social. Além disso, há o objetivo de observar a relação entre a autotranscedência, os valores e os médicos-cultural, estes, além de doarem-se ao seu campo de atuação profissional, associam-se às dimensões culturais. Para tanto, busca-se verificar como a utilização da plataforma digital colaborativa SIS médicos funciona como um instrumento de preservação digital em um contexto pós-custodial ao dispor de informação de médicos e, com isso, reconfigura a memória coletiva.
A metodologia utilizada no trabalho é de caráter bibliográfico, exploratório e documental, a partir de leituras, sistematizações e análises referentes aos médicos-cultural no campo da CI, à luz dos conceitos halbwachianos e franklianos. A perspectiva teórica do presente trabalho encontra-se nos estudos da memória coletiva, de Halbwachs e ao anunciado por este na obra A Memória Coletiva (2004). Além deste olhar acerca da memória, o trabalho ainda se alicerça na teoria da LAE, de Frankl.
Além dessa revisão bibliográfica, é utilizado como corpus documental a discursividade materializada e mobilizada na plataforma digital colaborativa SIS Médicos, a qual sintetiza a produção artística, literária e filosófica de médicos atreladas ao âmbito da emergente CI – Multi, Inter e Transdisciplinar (MIT).
O aporte teórico da LAE ressoa com o termo médico-cultural, uma vez que ela ainda aborda três categorias de valores, ou seja, possibilidade de encontrar um sentido, quais sejam: 1) valores de criação – na realização de uma ação ou na criação de uma obra, como, v.g. na arte, na dança ou na música; 2) valores de experiência (ou vivência) – ao experienciar algo ou encontrar alguém; 3) valores de atitude – que vinculam-se à decisão que assume diante da sua situação, momento no qual ele é convidado a agir e demonstrar-se como “capaz de dar outra configuração à sua existência” (DOURADO et al, 2010, p. 45).
O médico-cultural encontra-se desvinculado do determinismo, já que aqui é visto como um ser biopsiconoético, logo, é considerado como detentor da potencialidade para arrepender-se, vir-a-ser, tornar-se outro, já que “não está fadado a ‘ser assim’, pois se depara sempre com a possibilidade de ‘ser-diferentemente’” (MIGUEZ, 2014, p. 139).
Nota-se que há uma necessidade de publicização e difusão das produções dos médicos-cultural dentre os individuos para que haja a perpetuação de uma memória coletiva, a qual fortalece os modos de (re)existir dos médicos-cultural e do meio patrimonial. Sendo assim, há um fortalecimento dos acontecimentos individuais e coletivos desses sujeitos que dedicam-se para além da formação médica e daqueles que organizam as informações em acervos, bibliotecas e museus, presencial ou digitalmente.
Halbwachs (2004) apresenta que a memória apenas pode ser significada quando se baseia na coletividade. Assim, os grupos com os quais os indivíduos se engendram através das vivências, são os marcos efetivos da memória. Afinal, para que uma memória seja coletiva, é necessário que haja diversos pontos de contato entre as memórias e que uma “reconstrução se opere a partir de dados ou de noções comuns” (HALBWACHS, 2004, p. 39), assim, pode-se verificar há, nos dados presentes na plataforma Sis Médicos, uma preservação da união grupal e da memória coletiva, visto que a plataforma possibilita o reconhecimento de laços.
Destarte, à título de principais resultados e conclusões, pode-se observar que aqui o sujeito médico-cultural fora considerado como um ser biopsiconoético inserido num meio social, com isso, mobiliza as suas potencialidades de vir a ser para além de si e do que lhe ocorre, conforme o binômio liberdade-responsabilidade, segundo o qual o indivíduo pode não ser livre de condições e acontecimentos, mas é livre para posicionar-se diante daquilo que acontece, conforme vislumbrado nas obras posteriores ou cumulativas dos médicos-cultural. Duarte (2016) aduz que o caminhar para atividades diversas da sua formação médico-científica funciona “como exercício ao encontro do justo equilíbrio profissional, da compreensão da alma humana e dos valores do ciclo vital” (DUARTE, 2016, p. 18).
Isto destaca a potencialidade humana de autotranscender, posto que reforça o pensamento de Nietzsche: aquele que tem um porque enfrenta quase todo e qualquer como. Assim, ao encontrar um sentido do trabalho, suportaria as adversidades das situações, inclusive no âmbito patrimonial, que apesar de algumas dificuldades de apresentar-se em espaços culturais e de confecção de acervos, com a reunião de dados e difusão dos mesmos, pode-se potencializar sua existência e perceber a atuação da memória coletiva diante da vivência grupal, da preservação e da propagação arquivística dos médicos-cultural pelo campo tecnológico e museal.