Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: VESTÍGIOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA OBRA DO COMPOSITOR E MÉDICO ALDIR BLANC
Vanessa Prado Santos, Angelo Tavares Castro, Neima Prado dos Santos

Última alteração: 2023-08-14

Resumo


Contexto: A Música Popular Brasileira (MPB) conta com grandes compositores, sendo que alguns deles tiveram dentro da sua trajetória a formação médica. Um destes compositores médicos, também poeta e escritor, foi Aldir Blanc.

Objetivo: O objetivo primário deste estudo é homenagear o compositor e médico Aldir Blanc pela sua obra. O objetivo secundário deste estudo é buscar nas composições de Aldir Blanc termos que possam remeter à sua trajetória na medicina.

Métodos: Esta pesquisa traz uma discussão de termos que possam significar vestígios da formação profissional médica na obra do compositor da Música Popular Brasileira Aldir Blanc. Também foi realizada uma pesquisa nos meios digitais a respeito da biografia do poeta, escritor, médico e compositor Aldir Blanc. A metodologia deste trabalho consistiu na busca por letras de músicas que tiveram Aldir Blanc entre seus compositores nas plataformas digitais. A partir da leitura das letras de suas composições, foi estabelecida a procura por termos que pudessem estar também no cotidiano da carreira médica. Considerando o grande número de composições, e parceiros musicais na obra de Aldir Blanc, foi realizada uma etapa de leitura qualitativa, de 20 (vinte) letras de músicas buscando termos e palavras que se repetissem nesta amostra. Também foram considerados e identificados termos próprios da formação em medicina nas suas composições.

Resultados: Aldir Blanc Mendes nasceu no Rio de Janeiro, em dois de setembro de 1946, e faleceu, devido a complicações da COVID-19, no Rio de Janeiro em quatro de maio de 2020. Ingressou em 1965 na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, especializando-se em psiquiatria. Fontes de consulta nas plataformas digitais informam que sua obra conta com mais de 600 músicas, contando com parcerias com outros compositores, como João Bosco, Moacyr Luz e Maurício Tapajós. Muitos intérpretes cantaram Aldir Blanc. A cantora Elis Regina gravou grandes sucessos do compositor como “Dois pra lá, dois pra cá” e “O bêbado e o equilibrista” (em parceria com João Bosco). A cantora Nana Caymmi interpretou “Resposta ao tempo”, uma parceria com Cristovão Bastos.

Considerando a busca por termos próprios da formação e carreira médica, a música Nação, também fruto da parceria entre Aldir Blanc e João Bosco traz na sua letra: “Jêje/ Tua boca do lixo/ Escarra o sangue/ De outra hemoptise/ No canal do mangue.” As leituras das letras das músicas do compositor, e de seus parceiros de composição, revelam que surgem, em diferentes momentos, palavras relacionadas ao morrer, ao luto e a dor.  Na música “O bêbado e o equilibrista” a letra conta: “Caía a tarde feito um viaduto/ E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos... Mas sei que uma dor assim pungente/ Não há de ser inutilmente/ A esperança/Dança na corda bamba de sombrinha/ E em cada passo dessa linha/Pode se machucar.” Na música “Amigo é pra essas coisas” também surge o tema da morte, entremeando uma conversa entre amigos: “amanhã/ Que bom se eu morresse!/ Pra quê, rapaz/ Talvez Rosa sofresse/ Vá atrás/ Na morte a gente esquece/ Mas no amor a gente fica em paz. Em “De frente pra o crime” em uma parceria com João Bosco a letra descreve: “Tá lá o corpo estendido no chão/ Em vez de rosto uma foto de um gol/ Em vez de reza uma praga de alguém/ E um silêncio servindo de amém.” A leitura da letra de “Resposta ao tempo”, de Aldir Blanc em parceria com Cristovão Bastos, versa: “E o tempo se rói/ Com inveja de mim/ Me vigia querendo aprender/ Como eu morro de amor/ Pra tentar reviver”. Outra composição de Aldir Blanc em parceria com João Bosco, a música “Escadas da Penha” conta: Nas escadas da Penha penou/ No cotoco de vela velou/ A doideira da chama chamou/ O seu anjo-de-guarda guardou/ O remorso num canto cantou/ A mentira da nega negou/ O ciúme que mata matou/ O amigo de ala 'tá lá.” Palavras relacionadas ao tema da morte surgem também em outras letras de músicas como “Velhas ruas” e Paquetá, dezembro de 56”. O escritor Aldir Blanc foi o autor de crônicas para jornais cariocas.  O letrista, compositor, cronista e médico brasileiro Aldir Blanc deixou de exercer a profissão médica atuando como compositor, poeta e escritor. Acreditamos que sua formação e vivência na profissão médica fizeram parte de suas composições, surgindo em palavras e temas, aqui e ali, nas letras de suas belas músicas. O trabalho apresentado não tem a pretensão de analisar linguisticamente, musicalmente ou psicologicamente a obra de Aldir Blanc. O estudo pretende homenagear e reverenciar as composições do médico Aldir Blanc, um dos grandes compositores da Música Popular Brasileira.

Conclusões: A formação e a profissão são parte a trajetória das pessoas e, entre outras vivências, contribuem para construção da subjetividade de cada um. Neste trabalho procuramos revisitar a obra e homenagear um dos grandes compositores da Música Popular Brasileira, Aldir Blanc, sob o olhar da medicina e da música. As músicas de Aldir Blanc refletem a genialidade e a sensibilidade deste inesquecível médico e artista brasileiro.