Faculdade de Letras da Universidade do Porto - OCS, MEDINFOR VI - A Medicina na Era da Informação

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A TRAJETÓRIA DA LOUCURA E A RESSIGNIFICAÇÃO DA MEMÓRIA SOCIAL: DESCRIÇÃO ARQUIVÍSTICA E PRESERVAÇÃO DOS REGISTROS DO MANICÔMIO JUDICIÁRIO DA PARAÍBA
Claudialyne da Silva, Laysa Soares dos Santos, Jéssika Maria Borges de Carvalho, Gerlane Farias Alves

Última alteração: 2025-04-10

Resumo


A questão da loucura é um tema que tem sido discutido ao longo da história, pois nem semprea loucura foi vista como a perda da razão, ao contrário, na antiguidade grega, a loucura eravista como uma forma de acesso à verdade divina, já no período Renascentista a loucura vema habitar o mundo humano, descobrindo um espaço faiscante na literatura e nas artes. Arepresentação da loucura, que impregnava a paisagem cultural do século XV, celebrava-a muitomais do que a procurava dominar. Com o passar do tempo, a concepção de loucura mudou, eela passou a ser vista como uma doença mental que precisava ser tratada. No século XVI,surgiram os primeiros hospitais psiquiátricos, que eram conhecidos como manicômios, esseshospitais eram lugares onde as pessoas com doenças mentais eram internadas e tratadas, noentanto, os manicômios eram lugares onde os pacientes eram submetidos a tratamentosdesumanos e muitas vezes cruéis, sofrendo toda a forma de exclusão com tratamentonaturalizados e aceitos pela maior parte da sociedade, mas questionados por alguns grupos quepassaram a lutar pelo fim desses locais e pela integração de seus pacientes às comunidades asquais pertenciam. O Manicômio Judiciário da Parahyba foi inaugurado em 16 de agosto de1943, tornando-se um marco no governo de Ruy Carneiro. A instituição passou por algumasmudanças de nomenclaturas através dos anos, sendo denominada nos dias atuais dePenitenciária de Psiquiatria Forense da Paraíba. O Projeto de Extensão "Silenciamento,Sofrimento Mental e Cidadania: O Arquivo da Penitenciária de Psiquiatria Forense da Paraíba(Ano 2)" faz parte do programa de Bolsas de Extensão (PROEX) da Universidade Federal daParaíba, vinculado ao curso de Arquivologia e ao Departamento de Ciência da Informação, seuobjeto de estudo contém informações relevantes de cunho multidisciplinar e interdisciplinarque evoca o que se passa com seus primeiros 50 pacientes, contendo uma ideia acerca docontexto social da época, das práticas e violências às quais esses pacientes eram submetidos.Através da História da Loucura é possível perceber como os conceitos e práticas em torno daloucura nasce de um saber idealizado coletivamente, atrelados com os tempos, as culturas e acontextos sociais. Em meio a isso, o projeto nasce com objetivo realizar descrição arquivística,preservação e pequenos reparos no registro dos primeiros internos/pacientes da Penitenciáriade Psiquiatria Forense da Paraíba, disponibilizando informações arquivísticas para consulta,buscando combater o esquecimento dessas práticas do passado, possibilitando a ressignificaçãodessas informações sobre o tratamento de pacientes psiquiátricos no início do século XX, egarantindo possível transmutação da memória social e do fortalecimento de cidadania dessepúblico, que foram silenciados e esquecidos pela sociedade, sendo excluídos do convívio socialpor tantos anos. Além de contribuir para a compreensão histórica e adequada conservação doacervo e estudos arquivísticos relacionados aos acervos penitenciários brasileiros, permitindoao projeto garantir o acesso e uso da informação pela sociedade, preservando o objeto de estudopara as gerações futuras. Para além disso, essas informações se caracterizam como umavalorosa fonte de pesquisa para os estudantes, pesquisadores e cidadãos paraibanos. Por se
tratar de uma documentação que integra várias áreas do conhecimento, o projeto compôs-sepor estudantes de diferentes cursos, assim, enriquecendo os diálogos e as trocas de saberes.Metodologicamente essa pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa, na qual sua naturezada pesquisa insere-se em uma abordagem exploratória e descritiva, caracterizado por analisaros fatos sem a interferência do pesquisador (CRUZ; RIBEIRO, 2004). Tendo ciência darelevância do material tratado e da especificidade do acervo, o projeto iniciou-se com leiturase capacitações direcionadas a equipe do projeto. No primeiro ano do projeto, em 2021 foramofertadas capacitações e formações relacionadas à história da psiquiatria no mundo, no Brasile na Paraíba; Estrutura administrativa da Penitenciária de Psiquiatria Forense; À LutaAntimanicomial e Manicômios Judiciários; Organização e Representação da Informação;Identificação de tipologias documentais da área da saúde; Descrição Documental; Instrumentosde Pesquisa; Preservação. Outrossim, foram realizadas atividades de Identificação, AnáliseDocumental, Descrição e Disseminação de Informações por meio de instrumentos de pesquisa.Essas atividades realizadas foram fundamentadas na Norma Brasileira de DescriçãoArquivística e tiveram como objetivo preservar e tornar acessíveis as informações contidas noacervo da instituição, visando disseminar o conhecimento acerca das práticas realizadas nesseespaço. Em seu segundo ano do projeto, em 2022, foram realizadas atividades de identificaçãodas linguagens documentárias, com base na análise documentária dos prontuários do livro deregistro dos internos/pacientes pioneiros da PPF. Para mais, foram oferecidas capacitações eformações ministradas pelos colaboradores do projeto, como a formação sobre aInstitucionalização da loucura na Paraíba; Noções básicas de conservação e restauração dedocumentos em suporte papel e pequenos reparos no livro. Essas atividades contribuíram paraa compreensão histórica e para preservação adequada do acervo e estudos arquivísticosrelacionados aos acervos penitenciários brasileiros. Como resultado das ações que foramrealizadas, foi possível alcançar a descrição arquivística e a preservação do acervo daPenitenciária de Psiquiatria Forense da Paraíba, proporcionando acesso e uso efetivo dainformação pela sociedade, possibilitando a construção de novos conhecimentos, além dapreservação do objeto de estudo para as futuras gerações. Desta forma contribuindo noprocesso de disseminação, acesso e uso da informação do acervo da Penitenciária de PsiquiatriaForense da Paraíba. Dessarte, garantindo a possível ressignificação da memória social e dofortalecimento de cidadania desse público, que foram silenciados e esquecidos pela sociedade,sendo excluídos do convívio social por tantos anos.