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“De saia e bisturi” – O que pode a História da Medicina fazer pela igualdade do género?
Última alteração: 2023-08-14
Resumo
A história das mulheres tarda em ser contada por uma multiplicidade de factores sociais, culturais e económicos, começando na omnipresença masculina desde as crónicas medievais até ao actual sufrágio aparentemente universal das instituições em integrar mulheres apenas para estar de acordo com o novo cânone da igualdade de género e não pelo seu mérito individual. A desigualdade e o preconceito feminino ainda perduram nas subtilezas das nossas mesas de trabalho. Dentro da classe médica, o seu exemplo máximo revê-se na carreira cirúrgica onde ainda hoje médicas cirurgiãs de alguns serviços nos centros hospitalares portugueses têm de escolher entre a maternidade ou uma melhor nota final de internato. O Centro Hospitalar e Universitário de São João é desde a sua génese (Escola Médico-Cirúrgica do Porto) um vulto indelével na história da cirurgia portuguesa. A literatura e a memória dos nossos antigos cirurgiões veicula-nos sempre a rostos e a cirurgias num mundo completamente masculino. E onde se encontravam as mulheres? Não existiram mulheres cirurgiãs na nossa instituição desde a sua formação? Quem seriam elas? E se existiram, teriam autonomia para exercer a sua profissão? Que cirurgias realizavam? O presente trabalho tenta responder a estas perguntas, através da recolha dos dados dos relatos cirúrgicos do Centro Hospitalar Universitário de São João desde o seu nascimento (1959) até à viragem do século (2000), identificando as cirurgiãs que exerceram em pleno a sua profissão, o número e o tipo de cirurgias a que se dedicavam, bem como a sua presença e importância relativamente aos colegas do género masculino. Este estudo tem como epítome o re-contar da história da cirurgia portuguesa no feminino, usando como fonte informação clínica à guarda do Arquivo do CHUSJ como elemento activo do presente e modificador do futuro.