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A ciência aberta tem um enorme potencial transformador, estabelecendo um novo paradigmade investigação, no qual todos os investigadores partilham e têm acesso sem precedentes atodo o corpus de investigação para análise, extração de texto e dados, e outros métodos deinvestigação inovadores.Mas, para que esta visão e este potencial se concretizem, de forma sustentável e equitativa,não basta simplesmente alterar os modelos de negócio, e transformar o pagamento deassinaturas em pagamento de taxas de publicação. É necessário introduzir inovações nosprocessos e ferramentas de publicação e disseminação dos resultados de investigação,aproveitando integralmente as possibilidades oferecidas pelo ambiente e, simultaneamente,retomar o controlo do sistema de comunicação de comunicação académica pela comunidadecientífica e as suas instituições.Relativamente à retoma de controlo e sustentabilidade na comunicação académica, o caminhopassará por sustentar e robustecer as infraestruturas e serviços institucionais (dasuniversidades e outras organizações de investigação), como os repositórios e as plataformasde publicação de revistas e livros, permitindo a publicação e disseminação dos resultados dainvestigação sem barreiras económicas, como pagamento de taxas de publicação, como osAPCs (Article Publishing Charges).A transição para o acesso aberto através do pagamento de APCs ou de acordostransformativos tem vindo a demonstrar não ser uma boa solução, pois não apenas não temdiminuindo os custos, como tem consolidado o poder dos grandes grupos editoriais quedominam o mercado, inibindo a inovação, e continuando a concentrar os recursos financeiros,que seriam necessários quer para a investigação, quer para suportar modelos de publicaçãomais inovadores e sustentáveis e económicos, nesse pequeno grupo de editores. Isso foitambém reconhecido pelos ministros da União Europeia na reunião do Conselho Europeu demaio de 2023, que nas Conclusões sobre a publicação académica de elevada qualidade,transparente, aberta, fiável e equitativa expressam "preocupação com o facto de os custoscrescentes dos sistemas de acesso pago às publicações científicas e à publicação académicacausarem desigualdades e estarem a tornar-se insustentáveis para os financiadores públicosda investigação e para as instituições responsáveis pela utilização de fundos públicos,diminuindo o financiamento disponível para a investigação" e "SALIENTANDO que é essencialevitar situações em que os investigadores sejam limitados na sua escolha de canais depublicação devido às suas capacidades financeiras".O modelo alternativo, sem recurso a assinaturas ou taxas de publicação, é normalmentedesignado de Acesso Aberto Diamante, sendo suportado pelos recursos (financeiros, técnicose humanos) de agências de financiamento, instituições académicas (como as universidades) esociedades ou comunidades científicas. A importância deste modelo de publicação académicade acesso aberto sem fins lucrativos foi também sublinhada nas Conclusões do ConselhoEuropeu já referidas.
Quanto à inovação, nos últimos anos, e em particular durante a pandemia da COVID-19,aumentou a utilização e a visibilidade de novas práticas, modelos e plataformas decomunicação científica. O crescimento da publicação de preprints, a adoção de diversaspráticas de revisão por pares aberta convergiram no estabelecimento de um modelo inovadorde publicação, referido como Publicar-Rever-Cuidar (Publish-Review-Curate ou PRC), no qualos autores começam por disponibilizar um preprint do seu artigo num repositório (ou servidorde preprints) de acesso aberto, para que este possa ser considerado para revisão por pares(aberta) e eventual publicação em revistas tradicionais, ou overlay (que “publicam” conteúdosoriginalmente criados e disponíveis em plataformas - como repositórios ou servidores depreprints - diferentes daquela em que o processo editorial, de certificação e controlo dequalidade é realizado).A publicação de preprints tem aumentado nos últimos, nos quais se multiplicaram também deserviços abertos de revisão por pares que facilitam a revisão, validação e recomendação depreprints por comunidades de investigadores, e cresceu também o número de revistas overlay.O modelo PRC foi igualmente adotado pela plataforma da Comissão Europeia, Open ResearchEurope.Um dos desafios destes novos modelos é a interoperabilidade, e a comunicação normalizada esimplificada, entre os diferentes repositórios e serviços, evitando a criação de silos ou anecessidade de negociar a interação serviço a serviço. E esse é o desafio a que procuraresponder a iniciativa e o protocolo COAR Notify, que apresentamos nesta comunicação. AIniciativa COAR Notify está a desenvolver e a acelerar a adoção pela comunidade de umaabordagem padrão, interoperável e descentralizada para interligar os resultados deinvestigação alojados na rede distribuída de repositórios com outros recursos externosproduzidos por serviços de revisão por pares ou revistas overlay.O protocolo COAR Notify baseia-se em duas componentes ou tecnologias já estabelecidas peloWorld Wide Web Consortium (W3C): Linked Data Notifications (LDN), uma recomendação doW3C que descreve um protocolo de comunicações baseado em HTTP, URI e RDF; e a normaW3C Activity Streams 2, uma especificação de formato aberto para protocolos de fluxo deatividades, que são utilizados para sindicar atividades realizadas em aplicações e serviços daWeb social.A Iniciativa COAR Notify contribuirá para promover a sustentabilidade e equidade no sistemade comunicação científica, alavancando as infraestruturas institucionais e comunitáriasexistentes, associando as funções de publicação entre os repositórios e outros serviços, eassim partilhando os custos entre as diferentes componentes da infraestrutura. Aodesenvolver uma abordagem normalizada para interligar os resultados de investigaçãoalojados em repositórios com revistas e serviços de revisão por pares, liga duas comunidadespoderosas (a do designado Acesso Aberto Diamante e a dos repositórios, ou via verde). E temo potencial de acelerar o progresso no sentido de um sistema de comunicação académica maisinclusivo, equitativo, sustentável e inovador, assente no bem público e em valorescomunitários partilhados.